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Textos


Conversa de elevador


 


Nesta minha nova vida, assumindo o controle total da minha casa, dos meus passos e aprendendo a ser dona completa de meu nome, meu corpo, minha alma, minha saúde, meus amores internos e escondidos, acordo cedo para caminhar à beira-mar. É naquele lugar que eu reciclo meus pensamentos... No início tive intensa dificuldade de atravessar ruas, misturar-me no meio de todos, ver ônibus lotados, pessoas estressadas, filas de banco, supermercados.


Mudar a maneira de vestir-me foi uma das maiores dificuldades que tive que enfrentar. Os terninhos e saltos altos, maquiagem de executiva, unhas bem cuidadas, meias finas, centenas de peças de roupas em um armário repleto de vestidos sérios, saias, blusas de mangas compridas, de cores cuidadosamente escolhidas, foram aos poucos sendo substituídos por bermudas, blusinhas finas coloridas, tênis, cabelos presos em desalinho, calças legging e sandálias rasteiras.


Não fiquei doente, graças a Deus. Apenas dei uma reviravolta de cento e oitenta graus em tudo! O divórcio, depois de oito anos de separação e muitas lembranças guardadas para sempre, deve ser homologado em pouco tempo. Enfim, vida nova, como se estivesse renascendo... de certa forma, estou sim. É um processo lento e, à medida que o tempo passa, a cada vez que me surpreendo sorrindo ou cantarolando, olho para os lados como se uma outra pessoa estivesse fazendo isso.


O meu grande problema é a solidão. Não falo da solidão de alma, mas da falta de pessoas de carne e osso para conversar. Tenho algumas amigas fiéis e sempre que surge uma oportunidade, nos encontramos para uma happy hour. A cada vez, mil abraços, um monte de novidades, algumas lágrimas, alguns sorrisos. Conto das minhas poesias e elas contam dos filhos, dos maridos... falo do meu trabalho e elas também. Cada uma de nós com seu mundo particular... Ter amigos é divino! Pena que a gente se encontre tão pouco...


Ah sim... a conversa no elevador! Fiquei falando um monte de coisas e o elevador já deve ter subido e descido umas mil vezes! Fui levar um cd que gravei para uma amiga e fiquei esperando um tempão. Do meu lado, na fila ( mais uma), dois rapazes bem vestidos conversavam.


- Cara, estou cansado... que vida esta nossa! Chega na sexta-feira e tudo que eu quero é relaxar.

- É... eu também...

- O pior que hoje ainda vou ter que pegar a estrada...

- Pra onde?

- Pra São Gabriel, no norte do estado.

- Ah...é roça, lá?

- Não... é uma cidadezinha pequena do interior. Lá moram os pais da minha garota. São muito legais, eu estou adorando tudo!

- Nossa...

- Mas que é que você fica só respondendo assim, cara?

- É que eu não tenho ninguém. Nem uma garota legal  pra bater um papo... que coisa mais difícil...toda noite eu penso que amanhã vou encontrar alguém... mas pô, cara, já tenho 29 anos e nada...moro sozinho aqui, minha família é do Rio.


O outro ficou calado. O elevador chegou e uma pequena lágrima desceu dos meus olhos. A solidão dói... tritura a gente, por dentro e por fora.

 

 Foto: by Sunny/2006

 

Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 09/05/2008
Alterado em 25/06/2008


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