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Textos


Frustração e bom humor
(fragmentos de um dia)

 

Tenho muitas coisas pra fazer hoje... gosto de desafios. Ficar só na rotina eu não gosto... tem gente que adora. Eu, não! Acordei, como sempre, muito cedo e depois de ler o jornal, que não dispenso no café da manhã, fui dar a minha caminhada naquele lugar mágico que descobri aqui na ilha. Algumas pessoas que passam rapidamente por mim já me cumprimentam... às vezes com um sorriso tímido. Já começo a ver os pequenos detalhes do caminho percorrido: as buganvílias aparadas, bem baixinho, formam pequenas árvores coloridas. O caminho é pintado de verde. A pequena praia, de apenas duzentos metros, recebe o moço de chapéu de abas, que dá dezenas de voltas ao longo da água e areia fina. A ponte, gigantesca, assusta. Imagino as centenas de carros que passam correndo por ela enquanto caminhamos em silêncio. No fundo, bem longe, a beleza da paisagem abriga o Convento da Penha. O senhor de cabelos brancos sempre pára debaixo da imensa ponte e faz uma oração, olhando para o Santuário. Existem pessoas de todos os tipos e tamanhos. Eu sou baixinha e loura e estou usando um par de tênis mais velho que eu, pois minha unha do pé ganhou um carrinho de supermercado em cima dela.  Mulheres lindas, vestindo conjuntos que combinam com o rosto de batom vermelho, muito filtro solar, passam por mim e fazem-me lembrar aquela garota que caminhava na praia e foi motivo de uma linda canção de bossa nova. Alguns senhores aposentados passam conversando – não gosto de conversar enquanto caminho, prefiro a reflexão – contando casos ocorridos no passado, que já vão longe...


Devagar vou resgatando a auto-estima, que estava quase me dando uma rasteira...Hoje fiz “agnolini”, uma sopa italiana que já vem quase pronta lá das bandas da minha terra. Uma salada colorida, linda e o almoço está pronto. Arrumo a casa com Nina me supervisionando. Esta cachorrinha bem que podia falar. Ontem tirei uma foto dela em cima do teclado do meu PC. Vou ensiná-la a teclar.


Pronto! Onze e meia e já estou lendo as centenas de e-mails que recebo diariamente – graças a Deus e aos amigos que fiz neste mundo lindo que é a net. Algumas postagens para os grupos de literatura, uma frase para você e ... o Imposto de Renda! Hoje eu não escapo! Como tenho algumas dúvidas, planejo ir ao plantão da Receita Federal para esclarecimentos... e aí começa, de verdade, o meu dia.Não poderei ir ao voluntariado, porque imagino que deve demorar um pouco pra ser atendida... Primeiro, Vitória não suporta mais a quantidade de carros. Não tem lugar para estacionar. Depois de rodar cinco vezes o mesmo percurso, optei por um estacionamento particular e rumei para a Receita Federal.


- Boa tarde! Por favor, preciso de ajuda no meu Imposto de Renda.
- Hoje não vai dar, senhora.
- Como, não vai dar?
- Não.
- Mas por que?
- Ah, o pessoal da fiscalização está em treinamento. Volte amanhã ou ligue para o plantão. O pessoal do plantão ajuda.


E lá fui eu de volta pro estacionamento, caminhando sob um sol de rachar.


- Pronto, moço, voltei!
- Passe no guichê, pague que eu vou buscar o carro da senhora.


Sorridente, entreguei o ticket do estacionamento.


- Cinco reais!
- Quê, cinco reais? Mas eu fiquei menos de 10 minutos fora... não se paga por fração não?
- Fração ? Só se for de três minutos. Aí não paga nada.


Paguei, né? Estarrecida, mas paguei.


Já sei! Como hoje eu não tenho plantão no hospital e já são três e meia, vou ao Shopping comprar algumas coisas que estou precisando. Passo no Kadi, meu cabeleireiro, pra acertar as pontas dos meus cabelos.


- Oi, o Kadi está?
- Kadi ? Ih! Só semana que vem! Tá em São Paulo. Foi prum desfile e vai cuidar das gatas.


Logo adiante, a farmácia. Como estou sem meus hormônios, resolvi comprar, já que lá dão desconto.

- Hoje não vamos ter, senhora.
- Como, não vamos ter?
- Tinha, mas acabou.


Desisto... vou pra casa. Quatro e meia e nada fiz... Nisso, toca o celular.


- Tia Soninha, dá procê vir me buscar no hospital? Não consegui a cirurgia... já tava toda serelepe porque ia ficar lindinha... minha pressão subiu com tanta burocracia... agora tofu. Vou ter que esperar...

mas o pessoal do hospital adorou as minhas tatuagens de pererecas...

Era a Rose, a minha sobrinha que adoro, personagem de muitas crônicas minhas. Tudo bem... levei exatos 40 minutos pra chegar no hospital, ao som de buzinas e passeatas. Mas o cd novo que gravei bem que ajudou... a todo volume. Ao voltar pra casa, Nina mostrou a coleira. Saí com ela me puxando desesperadamente. Estava apertada, tadinha... fazer o que, né?

 

Foto: o homem que citei no início da crônica, fazendo a sua oração diária.
Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 10/04/2008
Alterado em 25/06/2008


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