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Uma nova praça



“Meu pequeno pai adquiriu uma pequena mercearia. A partir daí continuou na mesma atividade até o fim, quando a enchente do ano de 2000 acabou com o cômodo de 3 x 3 que ele amava tanto, onde vendia bananas, vassouras, chuchus e cenouras, tudo que estragava com facilidade se não fosse vendido – e comido – logo... Ele tinha tanto orgulho do que fazia que para ir ao banheiro, chamava a mamãe para “tomar conta” do estabelecimento dele, que ficava a poucos metros de casa e, com certeza, ninguém iria entrar lá enquanto ele estivesse fora.

A partir da enchente, nosso pequeno pai nunca mais foi o mesmo. Ao longo do meu relato, muito mais será falado a respeito deste pequeno grande homem.”


Trecho do livro “Eu, Sunny”

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Quando os imigrantes italianos chegaram à minha cidade (Santa Teresa, no interior do Espírito Santo), há mais de cem anos, a minha família estava incluída nos plantadores de café. Eu sou puro sangue italiano, da região de Piemonte. Meu pai, de quem herdei a sabedoria, fé e inteligência (sem modéstias), com o passar do tempo, buscou novos caminhos, dentre eles criar os cinco filhos vendendo pastéis, balas e “schnaps” para os alemães que amarravam seus cavalos defronte à pequena mercearia e passavam longas horas de pura diversão e amizade, mesmo com sérios problemas de compreensão de idiomas – alemão e italiano. Daí tantos gestos na fala dos meus conterrâneos teresenses...

A enchente de 2000 foi o início da despedida do nosso pai. Junto com a mercearia, que ele tanto amava, a força das águas levou uma casa, ao lado da nossa – que foi muito destruída, mas conseguimos colocá-la de pé após alguns meses de árduo trabalho.

Da casa do vizinho sobrou um buraco feio, onde lixo e sujeira se acumulavam. A casa já havia sido abandonada havia muito tempo. Nosso pai foi apagando devagar. Vive dentro de nós com a força da enchente que o deixou de alma tão debilitada, entretanto... acho que meu pai morreu de saudade.

Hoje cedo, dentre tantas lembranças e emoção, lágrimas de alegria e euforia, recebi um telefonema de uma senhora idosa, linda, meiga, viúva do meu pequeno pai.

Minha mãe assim disse, no sotaque que somente os teresenses têm:

- Sonia, me tenho uma nuticia qui você vai escrever alguma coisa, tenhu certeza, minha filha. Sabe a casa que foi embora com a inchenti? Começaron a construir uma praça...

O nome da praça é PRIMO FIORI SANCIO.



(Sonia Rita SANCIO é o meu verdadeiro nome, orgulhosa filha deste homem que foi TUDO de bom no nosso pequeno mundo. Sunny é apelido dado por meu pai e Lóra é sobrenome emprestado).


Foto: Rua em que meu pai viveu.



Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 01/04/2008
Alterado em 15/07/2008


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