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Textos


 

 

Pra mim, não pode ser. (&&%$#@)&*)


 

Ontem eu tive um acidente grave. Queimei minha mão direita – pra mim, tudo de mais importante, além de minha alma. – fazendo café, às 8 da manhã. Não sei como isso foi acontecer, porque sou cuidadosa demais com tudo que eu faço. Com esta mesma mão direita, eu afago os meus doentes todos os dias. É com ela que eu escrevo os meus poemas, frases, pensamentos e ela é o meu maior vínculo com o mundo que eu vivo, no trabalho de voluntariado que faço há quatro anos.  É com esta mão, inchada e dolorida, que estou escrevendo agora; nem por isso estou com pena de mim.


Senti doze longas horas de dor intensa. Agora, enquanto falo pra vocês, ainda dói muito. A mão está inchada, enrugada e preta. Comparo-a com a esquerda e me desespero. A pomada que o médico passou não está ajudando muito, porque eu sei que é uma questão de tempo. Água gelada, beijinhos, nada resolve. Mesmo assim, continuo a minha rotina, hoje, domingo.  Fiz novo café. Limpei a casa. Tentei uma luva pra esconder o dodói, mas esquentou mais ainda. Desisti.


A cada minuto que passa, eu digo, vou melhorar. Eu preciso desta mão! A mesma que, há doze anos quase me matou, quando um mosquito mordeu o meu dedo e infeccionou tudo. Após 15 dias de hospital, pensando mesmo dar adeus à vida, eu me curei, graças a ajuda de um médico que ficava comigo noite e dia. As dores de todas as doenças graves são enormes, eu sei e vivo isso sempre, acompanhando meus doentes amados no voluntariado. As dores das extremidades – mãos e pés – são insuportáveis. Eu passava os dias com a mão dentro de um balde de água quente por 24 horas e o médico que cuidou de mim dizia que o maior anti-inflamatório que existe é a água morna. É verdade... isso já é passado e agradeço a minha fé e ao Dr.João Cabas, poeta, cirurgião plástico e meu amigo. 

Hoje eu fui naquela grande loja, como faço todos os domingos,  apesar da dor na mão queimada. Este loja me deu grandes e boas experiências. Conheci pessoas lindas lá dentro. Aquela crônica que eu adoro, "Uma mulher diferente" foi idealizada lá, aquela que cantava bem alto, ao som do Linkin Park... 


Nunca esqueço a Karine, a menina da minha crônica de Natal, que acompanha meus pensamentos até hoje.  A última façanha que fiz pra ela foram duas, na verdade: um tênis pra escola e um tv. Continuo não conhecendo a Karine. Um bom amigo e os vizinhos me ajudam na aquisição do que ela e sua família necessitam.

Falei tanto e cheguei onde está doendo mais...Se eu pudesse, hoje, eu teria matado uma pessoa. Assim que entrei na grande loja, pensei em comprar um filme. Parada, logo na entrada, ganhei de presente esta mulher (*&%$). Com a mão, ela apertava a boca de uma menininha de quatro anos, no máximo. Baixinho, esta *¨%$&%¨% mandava a menina parar de chorar. Não se ouvia nem um som da boca da garota. Os olhos assustados da menina, de no máximo 4 anos, sim, após vários minutos de tortura exposta a quem quisesse ver.


Desejo a esta pessoa que sinta o que eu senti – e nada pude fazer por causa desta $%¨$#&¨%% de sociedade em que vivemos, o que eu senti naquele momento: incapacidade e a vergonha de ser gente, como eu sou.




 

A ilustração é de uma bruxa feia, até mais bonita que aquele pedaço de carne que pensa que é gente. Que se afogue dentro de um caldeirão! Infelizmente esta é a sociedade em que vivemos. Os seguranças da loja olhavam a cena sem interferências. Depois que a mulher foi embora, eles comentaram que espancamentos dentro de lojas é normal. Normal sou eu, que não consigo pregar o olho e voltei para revisar este texto, feito sob intensa emoção.
Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 09/03/2008
Alterado em 31/07/2010


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