free web counter
Textos


Meus dourados Carnavais


(trecho do livro “Eu, Sunny”)


...Mas o que mais nos deixava muito tristes mesmo era o Carnaval. Nós éramos obrigadas a ir para o retiro no colégio. Rezar o tempo todo. Imaginar como era lindo todos os pierrots e colombinas dentro do salão do clube, que era pertinho de nossa casa. E nós e mais algumas outras alunas dentro do colégio, dentro da capela, rezando por todos os pecadores que a cidade tinha!

Mesmo com a vinda dos nossos amigos de longa data, que adoravam o Carnaval, nada mudava no comportamento dos nossos pais. Eles traziam apitos, serpentinas, confetes, bolas, chapéus enfeitados, lança-perfumes, fantasias, mas de nada adiantava. As três continuavam exatamente no lugar comum, isto é, em casa.

Os amigos imploravam ao papai pra levar as meninas... mas o papai ferrenhamente dizia "não..."

No último dia de carnaval, a comunidade se divertia demais com a tarde do talco. Era uma brincadeira simples, engraçada e sem nenhuma maldade. Nossa mãe nos deixava ir até a casa da minha madrinha, em frente à igreja, ficar da sacada assistindo “um pouquinho” às brincadeiras. As pessoas se arrumavam todas bem bonitas e com roupas alegres. Iam para a pracinha, mas eram impedidos de continuar o “passeio” porque eram “atacadas” por foliões que jogavam talco em cima delas! Era isso! As pessoas que eram premiadas com o talco – claro que havia toda uma resistência... – aderiam ao grupo. Isso tudo regado à música e bebida...


Os blocos de sujo tomavam conta das ruas, era incrível ver aquele amontoado de gente vestindo roupas exóticas e com os rostos tapados. Era impossível mesmo saber quem era quem. E quantos beijos rolaram nos blocos de sujo... e quantos casamentos também surgiram nos carnavais da nossa pequena cidade. Enquanto havia a festa do talco, a matinê no clube era o que havia de mais belo. As crianças eram fantasiadas de bailarinas, pierrots, palhacinhos, bonecas, borboletas, havia de tudo um pouco. E claro, nós não participávamos. Nem de longe, nem de perto. Era frustrante e triste ao mesmo tempo. Não sabíamos o que se passava na mente dos nossos jovens pais.

Quando tudo acabava, eu arranjava sacos de papel de pão e ia para as ruas catar o que sobrava dos confetis e serpentinas. Levava para casa e fazia então o meu carnaval particular, no quintal, debaixo da casa, fazia caminhos de confetis, montava casinhas e enfeitava tudo com as serpentinas.  Cantava todas as marchinhas aprendidas e amava as marcha-rancho – “Estrela Dalva” é uma delas. Soltava a voz que ganhei de presente do Papai do Céu... Ah, lindas lembranças!


Dava graças a Deus de o outro dia ser a quarta-feira de cinzas, quando começava a quaresma, o período de reflexão e tristeza dos últimos dias da vida de Cristo. Uma das coisas mais lindas da natureza se dava nessa época. No Carnaval, as árvores eram cobertas de amarelo – grandes ipês que circundavam a nossa cidade – e na quaresma – incrível – eles eram substituídos por grandes ipês ... roxos! Até nisso Deus colocava as cores no que as pessoas deveriam sentir. E todo um ciclo se completava.

 

 (continua)

 

Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 02/02/2008
Alterado em 25/06/2008


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras
art by kate weiss design
www.amordepoeira.com -- Academia Feminina Espirito Santense de Letras - AFESL -- www.afesl-es.ning.com