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Textos


De solidão...
®Sunny Lóra
 
 
Minha mãe viveu 58 anos com meu pai. Ele era pequenino, mas era suave como uma brisa.  Papai amava sua família e seu passatempo predileto era rezar. Nunca viajou, nem conheceu nada mais do que a sua casa, o seu trabalho, a igreja, pedaços da pequena cidade onde viveu e os seus filhos. Adorava as sopas de tarde, onde se lambuzava com corações de frango, cozidos na água e sal.
 
Papai tinha a mania da acender e apagar lâmpadas, como se fossem luzes que se acendiam e apagavam dentro de si mesmo, todos os dias

Beijava as fotos dos filhos e dos santinhos e nunca entendeu o porque a filha do meio foi embora de casa com apenas quinze anos, para estudar numa terra longínqua. Ele sempre perguntava se tinha polenta na casa do casal de americanos que me acolheu como filha. Eu respondia : - Tinha sim, pai! O moço americano é filho de italianos, como você. Enquanto a mamãe acordava de manhãzinha para fritar pastéis, você rezava por mim...pra que não me faltasse polenta! Ele sorria, satisfeito.
 
Um dia, tão longe... Eu voltei para casa, por uma semana apenas. Meu pai deu-me um abraço no meio da rua da pequena cidade. Nunca esquecerei o que ele me disse. - Vá, Sonia, segue a sua vida. E assim fiz. Estudei muito, tive dois filhos e um casamento que acabou 30 anos depois.
 
Não muito tempo atrás, nosso pequeno GRANDE pai disse-nos adeus. Imagine, uma casa com 16 cômodos, sem filhos, sem ele... Mamãe se perdeu... não conseguiu mais dormir na casa onde viveu tanto tempo com o seu amado. A cada dia, quando anoitece,  ela pega sua sacolinha e vai dormir na casa de um dos filhos. A única que mora longe sou eu. Hoje falei com ela, eufórica, 82 anos de vida.
 
- Minha filha, eu fui num casamento. O noivo, bem mais velho que a noiva, fez poesia pra ela... Deve ter ensaiado muito, né? Tudo tão lindo! Eu fiquei emocionada, filha...Fiquei pensando nas suas poesias...você nem imagina como eu fiquei pensando em você, escrevendo...
 
O telefone ficou mudo por alguns instantes. E, bem baixinho, eu disse : - Mãe, eu te amo... 
Voltei para o ambiente que tenho vivido e aprendido a amar, com a minha doce vira-latas, Lady Nina, com uma cascatinha de água lavando meus olhos.
 
Novembro, 2007
Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 21/11/2007
Alterado em 25/06/2008


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