Apenas um Bolo de Palmito
Minha amiga Zezé costumava reunir a família aos domingos. Exímia cozinheira, acordava cedinho, colocava a melhor roupa e ia pra sessão de alimentos especiais. Eu, particularmente, adorava o bolo de palmito que ela inventou.
Zezé teve um aneurisma cerebral e está sem falar e sem comunicação com o mundo exterior há quase cinco anos. Num domingo desses, juntamos todos os netos e fizemos um almoço especial para ela. O filho do meio, tanto excelente médico como “chef de cuisine”, preparou-lhe os pratos mais saborosos. Ela estava tão feliz que víamos a alegria dela saindo pelo olhar carinhoso, dado a cada um dos netos adorados, mesmo sem falar mais do que três palavras.
A receita do bolo de palmito perdeu-se há muitos anos. Ontem, ao procurar um documento em uma caixa de papéis velhos, encontrei uma receita de bolo de palmito, de 24 de fevereiro de 1983, escrita pela linda letra da Zezé, exatos vinte e quatro anos atrás.
“Picar o palmito e fazer um refogado com uma colher de azeite. Juntar ao refogado 1 colher de cebola ralada, 2 colheres de salsa, 2 colheres de cebolinha e dois tomates sem casca e sem sementes, bem picadinhos. À parte, passe no liquidificador 100 gramas de queijo ralado, dois ovos, 1 colher de azeite, sal a gosto, duas colheres de sopa de trigo, bem cheias, 2 colheres de pó Royal e 2 xícaras de leite. Juntar o que foi batido no liquidificador ao refogado de palmito. Colocar em um pirex untado com azeite e polvilhado com trigo. Leve ao forno e sirva muito quente, com arroz branco.”
Existem momentos que não se pagam, jamais...
Obs. A foto é da horta da casa da Zezé, onde uma auxiliar caprichosa cozinha as mais deliciosas sopas para ela.
