Um amor diferente
O meu bairro ficou mais triste esta semana. Não consigo parar de pensar no meu amigo Alex. Algumas pessoas diziam que ele era engenheiro, outras que era um santinho que apareceu um dia para nos ensinar boas ações. Fazia a sua morada nos terrenos baldios.
Estava sempre bem arrumado, de tênis e meias, bermudas e camisas de malha surradas, mas limpíssimas. Todas as vezes que eu o encontrava parava para conversar. Disfarçava e lhe dava algo para comprar uma comida especial.
Esta comida especial era um saco de ração para cães. Ele amava tanto os animais que saía pelas ruas “catando” dezenas deles. Levava-os no Centro de Zoonoses e cuidava deles. Dava-lhes vacinas e muito amor. Era uma visão diferente demais. O mais bonito de tudo é que ele era aceito por todos os moradores.
Eu só o vi mais uma vez, rodeado pelos cães, que se recusavam a sair de perto dele. Foi esta semana. Alex teve um mal súbito e foi embora do nosso convívio. Não sabíamos se chorávamos por ele ou pela tristeza nos olhos dos oito cães em volta deles.
Tenho absoluta certeza de que, se o céu existe, o Alex está lá, cheio de cãezinhos, pássaros e São Francisco de Assis.
A foto é ilustrativa mas mostra o que Alex fazia todos os dias.
