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Retratos da cidade, V



Ganhei um “Bom dia, bjs” logo cedinho. 
Que seja um bom dia, mais um...

Só consegui sair de casa ao meio-dia. Nina me encheu a paciência para o passeio da manhã. Sabia que estava atrasada, mas a danadinha entende a “mamãe”. No passeio, encontramos o Toy, o cachorro do vizinho que está morando sozinho até que a família que se mudou venha buscá-lo- pra morar no sítio, é claro – é o que sobra pra alguns cachorrinhos... Enquanto isso, ele pula o portão e vem cheirar a minha Nina, com perfume de mim, é claro, porque ela sabe muito bem o colinho que deve ter.

Descobri que o porteiro não trouxe almoço – porque fuço a vida dos outros – e aprontei um prato bem bonito do que tinha na geladeira. Três minutos no microondas e o almoço do Rafa ficou uma beleza!

Tomei um banho, vesti aquela calça preta que eu adoro e uma blusinha bem clara, pra que ninguém veja - ninguém vê mesmo – que eu estou tão tristinha. Aquele exame que eu tenho que me submeter na segunda me incomoda, como o “tijolinho” que eu sinto debaixo do meu peito direito. Ainda bem que é do lado direito. Ou ainda não... Deixo a ansiedade pra lá. Segunda é um bom dia pra se saber o que eu tenho.

Vem cá, você quer coisa mais chata que os tais “Flanelinhas” ? Eu realmente respiro fundo pra “engolir” esta profissão. .. mas, como boa cidadã, eu deixo sempre as minhas moedas para serem ofertadas para os homens-meninos , com aquele meu sorriso que todo mundo já conhece. Quem gostaria de ter o seu meio de transporte arranhado, adquirido pelo trabalho correto? Ninguém, né?

Pois é. Tudo que eu queria era encontrar aquela velhinha que vende trecos na Praça Oito. E mais uma vez, ela não estava lá. Perguntei ao moço que vende um objeto estranho, que faz um monte de bolinhas nas batatas, onde ela está. Ele me disse que ninguém sabe dela há muitos dias. Em silêncio, fui na loja que vende objetos elétricos. Eu preciso de uma extensão de cinco metros. Encontro quatro vendedores, com ar de quem está de saco cheio. Finalmente um deles me atendeu, mas só tinha de dez metros. E eu lá preciso de dez metros de extensão? Ate um metro, que fosse, pra mim, tá bom!

Não pude tomar a garapa, que eu adoro – alimento proibido por mim, até segunda-feira.

Visitei o moço da banca de revistas e ele está ótimo. Disse-me que, se vender dez reais por dia, no final do mês tem 300. E aí faz a feira de legumes e frutas, feijão e arroz da turma. Tá certo!

Fui ao local mais bonito da cidade e comprei um vestido de bolinhas brancas, uma gracinha, pra fazer o exame na segunda cedinho. Se ajudar, pelo menos o vestido é bonito...

E quando voltava pra casa, meu cantinho, encontrei aquele menino, com cartaz bem grande, no semáforo.

Nele, está escrito : “Sou deficiente. Colabore comigo, até com centavos.”


















Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 24/02/2007
Alterado em 25/06/2008


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