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Nosso amor de ontem
Amor não precisa ser medido em intensidade, basta ser amor.
 


Para fazer uma casinha de abelhas em um vestido é necessário que o tecido seja delicadamente manuseado, juntando em quatro pontos principais de cada casinha. Depois de pronta, as mãos de quem a borda insere enfeites coloridos, feitos com linha especial.

Eu tive um vestido assim. Era branco e tinha as casinhas de abelha com pequenas flores vermelhas e folhas verdes. Aos domingos, depois da missa, o Elpidio, nosso sorridente fotógrafo, nos seguia até o jardim para tirar fotos. Eu daria tudo para ter uma delas de volta. Sentados sobre a grama verdinha, Nena, Bitu, Assunta e eu. Acho que nunca tirei uma foto tão significativa em minha vida inteira. Em preto e branco, crianças muito pequenas, a foto passa como um filme no meu pensamento. Muitas vezes as boas lembranças substituem o que podemos tocar com as mãos.


No nosso amor de ontem havia sorrisos verdadeiros e as pessoas se importavam umas com as outras.  Não era necessário criar centros de convivência porque cada um sabia seu papel de ser bom amigo, bom vizinho, bom colega e tudo era partilhado naturalmente. Não posso generalizar, porque bem sei que a maldade existe desde que o mundo foi criado.



No nosso amor de ontem podíamos andar sob os imensos eucaliptos, que serviam apenas para enfeitar os dois lados da estrada de barro. Eu pegava uma varinha e a guiava na terra lisa, fazendo com que a ponta desse pequenos pulos. Era fascinante. Quando a ponta se quebrava logo corria para arrumar outra.




No nosso amor de ontem jogávamos queimada, brincávamos de roda, peteca, bilboquê e andávamos de perna de pau. Eu nunca consegui dar um passo sequer na perna de pau, mas isso não significa que eu não apreciava quem conseguia, sem um mínimo de inveja, com um olhar de admiração. Para compensar as minhas limitações, eu adorava cata ventos e juntar tanajuras no início do verão, além de pescar ao lado do moinho.


No nosso amor de ontem os aniversários eram comemorados com brigadeiro, bolo confeitado, bolinhas de coco, copos coloridos de papel, guardanapos iguais e muita groselha. Esperávamos ansiosamente pelo convite da festa, que era feito no dia e nunca na véspera. Era muito legal sermos incluídos. No nosso amor de ontem não havia tanta exclusão como hoje, cada um em seu espaço que raramente é dividido.




No nosso amor de ontem ninguém se expunha na net, não havia redes de relacionamento, sites de noticias e os jornais eram de papel de verdade.  O barulho das máquinas da gráfica em frente à nossa casa era um imã para a apaixonada por letras que sempre fui.

No nosso amor de ontem podíamos sonhar todos os sonhos, fantasiar o que bem quiséssemos, porque nada era proibido. Já imaginou se pudéssemos entrar no pensamento de todos? Nem fazendo força conseguimos entender o que se passa em cada mente.  Éramos monitorados por pais preocupados e não raro saíamos segurando na barra da saia de nossas mães.

No nosso amor de ontem a gente era mais feliz. Gosto de lembrar o ontem porque o hoje cansa infinitamente. Por mais que procuremos as fotos das manhãs de domingo, nunca mais serão iguais. Os vestidos de casinha de abelha já chegam prontos, porque as mãos foram substituídas por máquinas que até falam.

No nosso amor de ontem nunca nos sentimos sós, mas no nosso amor de hoje podemos viajar no tempo e isso é fantástico!


 
 
Domingo de agosto, 2011- Chuva fina caindo
Imagens Google

 


 
 
 
Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 21/08/2011
Alterado em 24/03/2012


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