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DOR DE COTOVELO
 
 
Até os anos sessenta,  as meninas que não conseguiram manter um relacionamento para casar – Ah! Como era importante casar! – ficavam pra “titia”. Titia era o que havia de melhor para a sortuda irmã casada e cheia de filhos pequenos e montanhas de roupas no tanque. Era certa a presença da titia nos deveres de casa das crianças, nos pedidos insistentes de “vem tomar banho” e “vem jantar,meninos”.


Titia sentava-se ao lado dos capetinhas para assistir desenhos animados, enquanto seu pensamento voava para a chegada de um príncipe que nunca daria o ar da graça ou, no máximo, dançaria uma única vez na vida, de rosto colado, naquele baile concorrido no clube da cidade. Titia jurava pra si mesma, ao acordar no domingo, com os cabelos ainda cheios de spray laquê e make-up nos olhos pintados de véspera, que tinha encontrado o seu par, que ia casar também. Ora, se todo mundo casava, titia também ia casar. Não era bem assim.

Infelizmente – (felizmente) sua profissão familiar seria ser titia mesmo. Consertar as roupas dos meninos, ajudar a irmã na limpeza da casa e do quintal, passar toneladas de fraldas, fazer bolo nas tardes de sábado. Titia envelheceria e  tornar-se-ia umas das pessoas mais amadas das famílias. E assim era.





Algumas das meninas, com mais sorte e esperteza, conheciam rapazes “bons partidos” e outros nem tanto - e se apaixonavam. Paixão que arrebatava e que tinha ciúmes, cenas tórridas, beijos roubados, dor de cotovelo, de cabeça, cólica de menstruação.

Quando o romance acabava vinha a fase da fossa, que consistia numa posição perene de tristeza profunda de fundo do poço. No período de fossa, que durava muitos dias para algumas mais sensíveis, a menina ouvia musica arrebatadoras, boleros tipo boate de luz vermelha, chorava todas as dores de mulher abandonada.

Passada a fossa, a vida tomava seu rumo e ela, consciente e obediente à sua condição de titia, aceitava, sem deixar de sonhar, contudo. A fossa passava e a menina tinha mais habilidades de esquecer do que imaginamos!. Nada como um dia após outro.

Hoje o amor que alguém sentiu também acaba, com a diferença que termina (ou nem começa) para que uma fila ande infinitamente, sem que se tenha tempo de acordar pra ver o sol nascer, porque outra tomou o lugar da menina ou do menino e tornou-se a bola da vez.

Não existem mais as titias tomando conta de sobrinhos, mas a banalização de pessoas extremamente solitárias, cuidando de seus pais idosos. Existe a busca intensa de uma pessoa para conversar, nem que seja um papo que rola nas teclas de um computador.
 
Bom domingo!
Imagens Google
 
   

Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 08/05/2011
Alterado em 08/05/2011


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