Onde o amor está
"Aquele que tentou e não conseguiu é superior àquele que nada tentou." (Papel enroladinho recebido na rua)
Quando não viajo nos finais de semana eu gosto muito de ir ao centro da cidade ver os prédios antigos e misturar-me no meio de pessoas desconhecidas. Já tive experiências muito gratificantes quando eu “realizava sábados”. Conheci muita gente e escrevi sobre elas algum tempo atrás.
Eu fico olhando fascinada os prédios antigos, que abrigam as lojas populares. Estas escondem roupas bonitas e uma vez uma vendedora me confidenciou que muitas peças de sua loja eram repassadas para lojas caras de bairros nobres. Sabemos que grande parte das roupas que adquirimos nas lojas de griffe tem apenas a etiqueta trocada.
A cidade está esburacada, cheia de obras de saneamento. Difícil mesmo chegar até onde eu queria. Depois de algumas voltas e quase vinte minutos de tentativas, consegui estacionar num cantinho atrás do Teatro Carlos Gomes. O antigo prédio do INSS, completamente abandonado, abriga moradores de rua. Depois que tive a experiência ruim de ser assaltada e ficar sem chaves para entrar em casa, passei a andar com medo mesmo. |Estou aprendendo a dissipar este medo sem que seja preciso me apavorar.
De qualquer modo, ir ao centro é uma das experiências mais gratificantes para mim, pois eu vejo que o nosso mundo não é assim tão cheio de flores como pintamos. A Praça Costa Pereira hoje tem apenas um ou outro artista. Dar um passeio naquela praça, onde o teatro Carlos Gomes recebe tantos talentos, era o que havia de melhor para os capixabas. Mais adiante, o Parque Moscoso, onde eu levava os meus filhos pequenos para dar comida aos peixes e comer pequenos churrascos deliciosos.
O pregador da Bíblia, vendendo cds evangélicos, falava para o vento que este negócio de Santos e Nossa Senhora acabou há muito tempo; que agora é só Jesus mesmo. Nada tenho contra. Cada um crê no que deseja acreditar. Entre um gole de água e outro, o rapaz jovem, de dentes separados, queria dar o seu recado e ser ouvido. Não foi, porque não tinha platéia. Eu mesma apenas passei por ele e captei as palavras de quem tem certeza do que diz.
Consegui atravessar a praça e me pus à aventura de ver pessoas de todos os tipos. Impressionante a quantidade de cds e dvds piratas nas ruas. Podemos comprar um filme que nem chegou às salas de cinema. Um mp3 com 180 músicas é vendido por uma quantia irrisória. Meias, bolsas, enfeites para os cabelos, doces, brinquedos, roupas, pastéis, picolés, tudo se mistura naquela longa e amada avenida.
Eu comprei uma antena para a minha velha TV do escritório, pois a outra que tinha, só de olhar para ela, desmanchava-se em minhas mãos, a cada tentativa de melhorar a imagem. Não fico sem música ou TVs ligados. Fazem-me mais companhia que eu possa imaginar. Ás vezes nem ouço o que é dito, mas tem barulho e isso é o que importa.
Procurei pela senhora que sempre vende pecinhas para colocar nos cabelos, brincos e colares feitos por ela, mas não a vi. O que mais me encantou foi a estátua viva. No meio da praça, em cima de um banco, uma figura magérrima, vestida de prata, fazia movimentos muito lentos e ofertava pequenos pedaços de papel enrolados com frases. Eu fiquei tão encantada que podia passar a tarde toda olhando para aquele rosto simplesmente belo. Era um anjo, talvez. A um metro dele (ou dela) uma pequena caixa abrigava moedas.
Depois de receber a minha frase, fiz questão de colocar mais uma moeda na caixa. Fiquei pensando nas tantas vezes que li que o amor está nas pequenas coisas. Chorar e sorrir faz parte da vida. Hoje chove, amanhã faz sol. O que importa, mesmo, é nunca deixar que a ternura se aparte de nós.
Hoje é domingo e vou ao Convento perguntar para Nossa Senhora onde o amor está.
Bom Domingo!
Imagens Google
Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 10/04/2011
Alterado em 10/04/2011
