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Textos





CHEIROS

 

Prezada  escritora

 

Parabéns  pelo  belíssimo  texto ”Sempre  aos  domingos”. Já  é  meu  costume  dar  uma  passadinha  por  aqui e saio  sempre  de  alma  renovada.O  seu  assunto  de hoje  é  fascinante, em  especial  à mim, que  por  muitos  anos  trabalhei  com  perfumaria.

Fiquei até  emocionado  com  a  beleza de  sua  crônica  e  não  resisti à tentação  de  repassar  alguns  dos  tantos  cheiros  que  povoam  minha  memória  olfativa  trazendo-me  lembranças,saudades (boas,é  claro), transportando-me  à  fatos e  situações  que  de  alguma  forma  marcaram  em  minha  vida exatamente  por  estarem  ligadas  à  determinados  cheiros.

Ameixas &  Alecrins- No pomar  da  casa  de minha infância haviam  inúmeras  ameixeiras. Daquelas  que  produzem  frutos  em  dezembro,vermelhos,sumarentos...Estas  caíam  sobre  as  touceiras  de  alecrim e  a  mistura  dos  seus  cheiros  era  algo   de indescritível. Costumo  brincar  dizendo: Se  Christian  Dior  os  sentisse, ficaria  enciumado  diante da  harmoniosa  combinação. Rsrs....

Junquilhos – Em  especial  os  precoces, aqueles  que  florescem    no  início  do  mês  de  agosto,geralmente  em  jardins  antigos. Remetem-me  à  casa  de dona  Angelina,uma  nona  italiana  que ,exagerada,fazia  uma  prece  de  agradecimento  à  Deus,erguendo  os  braços  e  bendizendo  a  beleza  dos  primeiros  junquilhos. Perfumadíssimos, existem  muitos  ainda  em  meu  jardim  e , procuro  ser  muito  discreto ante  à  minha  primeira  visão para  não  acabar  tendo  um  ataque  de  “Angelina”  e  tendo,naturalmente,que  pagar  um  belo  mico.

Capim  cidró: Reúne  toda  a leveza  dos  campos  em  dias  de  vento  fresco.Quando  em  criança, fugíamos das  mães e íamos  nadar  nos  açudes e nos  pequenos  riachos. Para  mascarar  aquela  nhaca  de banhado, esfregávamos  no  corpo aquelas  folhas  e  chegávamos  em  casa  “alavandados”.

Batata  frita – Remete-me  à  rua  do Fomento, a  rua  da  minha infância. As  poucas  casas,enfileiradas. A  noite  caindo, o  campinho  de  futebol  ficando  deserto  e  aquela  rua  de  sonhos  estendida  em  sua  humildade, rescendendo  ao odor  de  batata  frita.

Guabirobas – Remetem-me  às  férias  de  dezembro. Sabiás  entoando  a  cantiga  do  acasalamento, céus  hortenciados  e  nós, a  piazada, à  caminho  da  mata, à  cata  dos  frutos  doces  e  deliciosos.

Leite  de  Rosas – Lavanda  Inglesa – Cashmere  Bouquet: Levam-me  ao  aconchego  de  minha  querida  avó  materna: Dona  Izaura. Querida ,educada, cheirosa...Quanta  saudade!

Cheiro de  pão: As  vezes tento  associar  o  cheiro  das  panificadoras àquele  cheiro  exalado nos  quintais  da  casa  de    Maria,minha  avó  paterna.Tento,por que  a  diferença  é  muito  grande. A  casa  do  forno...A  vassoura  de  mato  cheirando  à  queimado,e  aquele  odor  de  pão  fresco  invadindo  o  quintal.Inesquecível!

Toque  de  Amor – Era  o  cheiro  do  perfume  que  acompanhava  as  cartinhas  que  recebíamos  nos  anos  70, quando  era  moda  entre  os  jovens, a  amizade  por  correspondência. Quantas  cartas  recebi, rescendendo ao  cheiro  da  moda, tido  hoje, como brega, ou  de mau  gosto.

As  rosas  de  tia  Luíza: Idosa que  morou  conosco  no  fim  dos  anos  60. Adorava  flores  e  no  caminho  que  levava ao  lenheiro  em  nosso  quintal (enorme) fez  crescer  as  mais  diversas  rosas.Percorria  todos  os  dias  aquele  passadouro,conferindo  a beleza  das  suas  rosas  que  tinham  denominações:Rosa  de  maio, Príncipe  Negro, Dengosa, Rosa  de  Lourdes,etc...

Lírios  e  violetas: Nada  mais  sutil  que  seus  cheiros.

Jasmins: Remetem-me  à rua  24  de  maio,à  noite, quando  subia  a  ladeira  de  pedras  à  caminho  do  colégio  S.Vicente  de  Paulo.Casa  antigas  e  a  presença  d e um  jasmineiro na  maioria  delas.

Marcelas  do  campo – Seu  cheiro, sua  presença  tímida  à  beira  das  estradinhas  de  mato,sua  cor  amarelo  desbotado. Sexta  feira  da  paixão, antes  do  nascer  do sol, as  pessoas  de  minha  vila colhendo suas  flores, seguindo  tradições  do  Sul  do  Brasil.

Polo – o  meu  perfume  predileto. Apesar  de variar  muito, acabo  sempre  voltando  ao  Polo. Reúne  a  leveza  dos  campos  umedecidos  e  a agressividade  da selva. Uma  combinação nada  convencional onde  os  extremos  “entendem-se” e, juntos, harmonizam-se  entre  si.

Infinitos  são os  cheiros  de  que  se  pode  falar.Perdoe-me  esta  minha  invasão,mas  a  culpa  é  toda  sua.Com  um  texto  magnificamente  instigante  feito  o  seu, quem  resiste à meter  o  bedelho?

 

Boa  tarde  e  felizes  inspirações.

IRATIENSE – JOEL  GOMES  TEIXEIRA







Obrigada, amigo Poeta. Lindo demais!!
Sunny Lóra

Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 07/03/2011


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