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Textos


 Doçura demais

 

 

… porém, doçura demais enjoa, causa dor de cabeça, dor de barriga. (...) - reflexão sobre "doçura demais". (AD)

(Citação em “Flores Amarelas” -  R.Aliberti)

 

 

Quando eu li este texto confesso que fiquei muito pensativa. Cada um de nós, quando escreve, seja em redes sociais, poemas ou crônicas, quer dar um recado específico. Até na maneira como recebemos um “Bom dia” escrito, tem som. Já sentiu isso? Eu já, muitas vezes. Experimente ler com cuidado qual é a mensagem que queremos passar quando escrevemos, falamos, olhamos...


A ternura que minha Nona tinha no seu comportamento era escancarada. Nos poucos anos no seu convívio, nunca vi a minha Noninha zangada. Nega diz que ela totalmente feliz, porque cantarolava o dia inteiro. Tinha longos cabelos, até os quadris. Sentava-se à beira da cama e ia fazendo uma trança bem fina, que depois era enrolada num coque. Faceira demais, ao som de sua própria voz, cantava “La Verdinella”, a sua música preferida. Ela era simplória; esta é a palavra. Todas os dias minha avó me falava de amor, amoroso, amado, amada, amante e não tinha conotação sexual não. Era de amor mesmo que ela falava, com uma doçura de fazer qualquer coração derreter. Nem encontro o meu (coração) quando eu falo de minha avó Cecília; acho que ele vai para junto dela só para escutar a sua voz baixa e pausada de novo, uma maneira que eu tenho de pedir-lhe perdão por ter ido estudar muito longe e não pude dar- lhe meu ultimo abraço quando ela nos deixou - (que saudade).

Ser doce é ser amável, sorrir para quem lhe sorri de verdade. Tem uma coisa que me acontece com muita frequencia. Os bebês sempre me sorriem, onde eu estiver. Dentro de elevador, em fila de supermercado, na praia, na rua. Será que eu tenho um monte de balinhas doces penduradas nos meus cabelos? Ao mesmo tempo, não tive a oportunidade de ter um amor de verdade. A vida veio e me deu uma rasteira. Bem feito pra mim, que sempre fui tão doce! Como doçura demais enjoa, para minha tristeza, não tenho outra alternativa senão ser uma bruxinha zangada hoje. Onde estão aqueles dias que as pessoas eram amigas sem nada nos cobrar?  Onde estão escondidas as mentiras e desculpas esfarrapadas que são largamente usadas hoje, como se verdades fossem? Ninguém é obrigado a gostar inteiramente da gente, do que escrevemos, do que falamos, das musicas que gostamos de ouvir, das comidas que nos apetecem. Por isso as pessoas são diferentes... É preciso saber captar a sensibilidade de cada um, penso.

Eu não saio por aí julgando e sentenciando o que não é bonito nas pessoas. Não forço ninguém a estar do meu lado, mesmo que anos se passem e eu permaneça me fazendo perguntas de porquês, como, quais, quando. Não seremos crianças eternamente. Cada um de nós terá passado por situações de imensa alegria ou de terrível tristeza, sem exceção. Os ricos e os pobres. Os bons e os maus. Mas cá pra nós, tem coisa pior que uma língua ferina? Aquela que coloca para fora tanta maldade que só de ouvir o tom de voz nos traz arrepios!

Nega me conta fatos que me tocam muito. Aliás, viajar na mente de Nega é algo que poucos têm o privilégio de vivenciar. Da doçura usual, ela se transforma numa humorista engraçada demais, cujas palavras são absolutamente impublicáveis! Das amargas experiências ela inventa palavras novas, fantasia situações, conversa com as plantas. Enfim, dá um valor inestimável à doçura de ser alguém desprovido de maldade. Nega disse-me que Jovita Dorotea, ou apenas Titi, foi morar em outra dimensão. O maior legado que ela deixou foram canteiros de “amor-perfeito”, aquela flor amarela e roxa linda de viver. Sua prima também cultivava as sensíveis flores. As filhas tentaram cuidar dos canteiros, mas depois que ela terminou sua passagem por aqui as flores não quiseram mais ficar.

Sei que estou numa viagem em pensamento, em forma de escrita. Que cada um que tiver vontade de ler este texto, pense nas entrelinhas e principalmente no recado que eu quis dar.

Não se planta amor-perfeito e colhe-se girassóis...

 

 

Domingo de sol de fevereiro.

Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 13/02/2011
Alterado em 13/02/2011


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