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Textos


 



Sempre no meu coração



                        É na adversidade que se prova a amizade.

 

Eu vivo só, não por opção, mas por imposição da vida. Nunca pensei que aquela menina sonhadora iria tornar-se uma mulher de alguns fios de cabelos brancos e sozinha. Achava que casamento era para sempre, que os filhos ficariam por perto, todos os amigos mantidos. Triste e decepcionada, hoje passo por  pessoas cujo convívio foi longo, sem que sequer me cumprimentem. Estão sempre fechadas em suas cascas e quando as chamamos, o abraço caloroso logo se transforma num aceno de quem não quer compartilhar nada além do que aqueles momentos e aquele “eu te ligo” é apenas para fechar o rápido encontro, onde os números dos telefones não existem. Esta atitude é muito comum e já não surpreende ninguém.

Quando fui assaltada por um menino há quase dois meses, fiquei vulnerável demais e qualquer palavra ou lembrança dos momentos de terror que vivi, era motivo para deixar lágrimas descerem livremente. Procurei não comentar muito, porque nada ia mudar a minha situação; o mal estava feito e traria marcas por muito tempo. Vejo que penso cada vez menos na experiência e permanece apenas a lembrança de quantos momentos felizes eu tive com aquele “bichinho de quatro pneus” que me levava a lugares, deixava meu coração pulular de sensibilidade quando eu ouvia minhas músicas preferidas, levava-me para rever minha família e Nega, minha amada irmã;  dava-me intensa emoção ao passar pelas pedras seculares do Convento, em meio às centenas de árvores tão queridas. As coisas materiais são repostas e nada fica para trás totalmente. Estou recuperando a autoconfiança no transito; mais alerta e menos boba. Novos sons estão sendo gravados, as medalhas perdidas de Nossa Senhora foram adquiridas, iguais...

Algumas pessoas passam a fazer parte da vida da gente porque convivemos no mesmo bairro. A moça do caixa da padaria, o dono do restaurante, os meninos da farmácia, o professor de natação, a simpática auxiliar do nosso prédio, o porteiro de rosto sério e compenetrado, os vizinhos... Todos souberam do que me aconteceu porque o bairro é pequeno e as notícias correm. Ao contrário de receber solidariedade dessas pessoas, encontrei alento em muitas mensagens no mundo virtual e nos inúmeros amigos que são preciosos demais para mim. Aprendi uma lição muito significativa com a moça do caixa. Eu sempre a elogio pela sua maneira de cuidar dos cabelos e o uso de batons e sombras, fazendo-a mais bonita. Ela fica sempre muito feliz. E eu imaginava que ela poderia ser considerada minha amiguinha. Quando eu lhe contei o que havia me acontecido, a reação dela tanto me surpreendeu que fiquei sem fala. Ela simplesmente disse um “e eu com isso” frio como picolé, deixando-me com vergonha de ter falado.

Ser bom nunca fez mal a ninguém, mas tanto as pessoas boas ( e algumas raras ruins) enfrentam seus momentos de dificuldade. Viver só faz com que prestemos mais atenção aos sinais de nosso corpo. Cada detalhe é percebido com mais intensidade. As batidas do nosso coração podem ser contadas através de um toque de nossos próprios pés, ao procurar uma posição confortável para dormir. O lado bom de viver só é que temos um espaço só nosso; podemos deixar nossa cama desarrumada o dia todo que somente nós saberemos. O ruim é quando bate saudade e ficamos tristes, porque aí é que sabemos que estamos sós de verdade.

Não sei se era isso que eu queria escrever hoje. As palavras foram saindo do pensamento, na intensa saudade daquela menina de cabelos de palha de milho que eu fui.

 

Domingo, final de janeiro, 2011

 

Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 30/01/2011
Alterado em 31/01/2011


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