Cante aquela canção da Lua A vida leva e traz, A vida faz e refaz
(José Miguel Vinisky – “Mais simples” – Zizi Possi) Eu trabalho num lugar muito agradável. A parte da recepção do prédio tem um pequeno shopping, com cafés, salões de beleza, lojinhas de roupas, sapatos, bancos eletrônicos, lanchonetes, livraria (onde eu sempre entro, para babar sobre os livros). O prédio é dividido em duas torres. É gostoso passar por este lugar, todos os dias. Parece que sempre tem algo novo pra ver, mesmo que seja por alguns minutos antes de pegar o elevador para o trabalho. O mais interessante é que exatamente às quatro horas da tarde, as pessoas fecham os escritórios e descem para um café. Coisa bem rápida, mas muito bom, porque dá uma pausa e a gente pode soltar o riso com os colegas.Conheci Maria Isabel num desses cafés. Seu cabelo vermelho chama a atenção de todos. Ela é engraçada e alegre. Quando começamos a conversar é que vemos como funciona o poder de superação. Algumas pessoas têm tanta força interior que esquecem as dores e nem se lembram mais delas. - Eu sou da vida, moça. Se eu for ficar chorando tudo que passei, não haveria espaço para mim aqui “em baixo”.Depois que você passa a conversar mais com ela, vê que a sutileza com que usa a peruca de cor vermelha é o segredo de seus olhos ainda brilhantes. De início, você pensa que é o seu próprio cabelo, mas depois... Ela é um amor de pessoa e tudo que faço é ouvir a voz pausada, enquanto tomamos o café. Cada dia ela me conta um pouco... Maria Isabel mostrou-me que para sermos felizes não é necessário ter muitas posses. Um rádio pequeno toca a mesma música que um equipamento imenso. Um sanduíche de pão com manteiga pode ser um manjar dos deuses, quando estamos com fome. Uma sopa de legumes substitui o medalhão de filé. Aquela peça de roupa que ficou fora de moda é reformada pela costureira do bairro onde ela mora (ainda existem costureiras, sim). Uma vez ela pegou um vestido de baile, lindo, cortou em duas partes e fez uma peça digna de ser usada pela Giselle. E ainda por cima foi trabalhar com ela, em plena luz do dia, como se estivesse pronta para a melhor dança da noite.Aí, eu fico pensando... Como me livrar das minhas calças legging pretas? Dou mil voltas nas peças de roupas que tenho e sempre estaciono o meu corpo nas calças, mudando somente os acessórios e as blusas. É bonito, mas enjoa. Queria usar vestidos, salto alto, cabelo vermelho... Dar um pontapé nesta minha timidez!As pessoas são tão diferentes uma das outras que enquanto eu penso que poderia cantar uma canção da Lua, ela distribui sorrisos por todos os lados, enquanto sua peruca vermelha reina nos corredores do prédio.Dizem que, não importa qual seja a verdade, as pessoas enxergam apenas o que querem ver. Algumas pessoas vêem coisas que jamais gostariam de ter visto. Algumas pessoas ouvem coisas que podem ser tanto verdade ou tanto mentira. Algumas pessoas falam mentiras como se fossem verdades. Algumas pessoas sentem-se felizes por saber que são amados, mesmo que não amem ninguém. Algumas pessoas sentem-se mais felizes ainda por saber que sempre terão alguém para dar-lhes a mão. Algumas pessoas podem dar um passo para trás e descobrirem que estavam olhando a mesma cena por todo o tempo. Algumas pessoas podem ver que suas ilusões quase acabaram com elas. Algumas pessoas podem ver o que estava na sua frente o tempo todo. E ainda há aquelas pessoas que correm o máximo que podem para não terem que olhar para si mesmas. Algumas pessoas se alimentam de sonhos e outras de vida. É uma questão de escolha... A música de Zizi Possi, citada no início deste texto, me acompanhou em muitas canções de Lua: as minhas poesias. Domingo de final de janeiro, 2011 
Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 23/01/2011
Alterado em 23/01/2011
