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Textos

Vassouras
Sunny Lóra

 
Durante um evento inesquecível do qual também tomei parte, minha amiga Renata* surpreendeu a todos ao entrar maravilhosa, carregando uma vassoura. A peça, belamente enfeitada com ramos de flores, chama a atenção. Olhares curiosos, pensamentos que vão longe, a vassoura vestida de flores chegou e fez sucesso.

Assim que a vi, meu pensamento foi direto para o meu pai, cujo mundo profissional era composto de uma banca de verduras. A decoração do lugar consistia de um rádio velho, um filtro com água, livros de orações, um quadro para que ele não se esquecesse de sua grande fé. Papai vendia suas preciosidades: bananas, tomates, batatas, chuchus e... vassouras! Durante muitos anos eu ganhei vassouras do meu pai. Ainda tenho duas. Uma eu uso e outra eu guardo para uso no futuro.

As vassouras tornaram-se objetos sofisticados hoje. Obviamente ninguém vai procurar galhos e amarrá-los em cabos para a limpeza de uma casa. Tem até algumas que são acopladas nos baldes, com dispositivos para limpeza que até nos surpreendem, tornando-se até objetos de uso pessoal  indispensáveis e caros. A vassoura faz limpeza...

Depois de dias de intensas emoções, cansaço, ternura, preocupações dobradas – essas são somente minhas e sou eu quem as vivo... – acordei hoje bem cedinho, como sempre. Tive que trocar de roupa duas vezes em pouco tempo. Senti frio demais e depois calor, ao varrer a casa. Isto pode ser até simbólico; vontade de mudar mesmo, eu acho. Há de se ter uma necessidade premente de fazer uma varredura na vida inteira, começando pela limpeza física do nosso lugar. Gavetas, armários, cantinhos, tirar cada partícula de poeira, separar o que não usamos mais.

Depois, com calma, começar a escolher o bom e descartar o que não nos acrescenta nada. Isso inclui pessoas, mas seriam “os específicos quem” não nos acrescentam nada de bom... Vejo mentes trabalhando numa velocidade da luz em prol da desgraça alheia. Vejo inveja transbordando em cada poro. Vejo desejo de poder, de controle. Vejo e nada faço. Um dia aprendi que as pessoas sensatas se calam, porque o silêncio fala muito mais – sabedoria pura de Teresa de Ávila.

Na limpeza verdadeira, a de alma, podemos ver como fica tudo branquinho depois que descartamos o feio, o mal, o mau e as milhões de partículas que corroem a alma dos invejosos.

Novembro de chuvas, 2010.

·        Renata Bonfim - Ativista socioambiental, Artista Plástica, pesquisadora do CNPq desde 2007, mestre e doutoranda em Letras pela Universidade Federal do Espírito Santo/Ufes.




Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 16/11/2010
Alterado em 29/12/2010


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