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Textos




Pra baixo no quarteirão
Sunny Lóra


 
Toda vez que o horário de verão chega, antes de dormir,  eu acerto o relógio do meu quarto. Os outros eu deixo para o dia seguinte. Fico de olhinhos fechados até a hora de levantar e aí, de soslaio, dou uma olhadela nas horas. Seis e dez! Como é que pode? Nem com o relógio adiantado em uma hora eu acordo mais tarde! Na verdade, eram cinco e dez, mas na minha cabeça eram “seis e dez”. Que seja!

Agora são nove horas.  Incrível como o tempo corre! Tomei meu café lendo os jornais que Nina foi “buscar” no elevador. Sem letras na minha frente, parece que falta alguma coisa. Uma vez eu li que existe papel higiênico personalizado com textos, poesias, frases. Já pensou, que legal?  Como nunca vi um papel higiênico personalizado, prefiro achar que neste mundo, onde tudo muda a cada instante, eu me conscientizo mais e mais em ficar fascinada de como as minhas grandes emoções estão exatamente nas pequenas coisas.  

Ontem eu fui procurar uma peça de computador para meu filho, enquanto ele estuda o seu mestrado. Tenho imenso prazer em ajudar, ser útil de qualquer maneira. Nada me dá mais prazer que ajudar alguém.  Eu nasci “isso” e nada vai mudar, eu sei! A loja é imensa, vende por atacado. Tem tudo que se pode imaginar, desde produtos de informática até objetos de decoração de geladeira. Eu fico encantada toda vez que vou lá. O pai dos donos é um senhor de quase noventa anos. Ele nos recebe com um sorriso (que eu adoro; ele deve ter sido um homem belíssimo quando jovem, pois é bonito demais, mesmo curvado e com certa dificuldade de caminhar.) Ele sabe que eu gosto de andar pelos corredores da imensa loja e me mostra as novidades, enquanto me oferece um café. Saí de lá com dois objetos novos e sem a peça que tinha ido comprar, porque não tinham em estoque.  Minha sacolinha de compras abrigava um pequeno pássaro colorido e um bonsai tão perfeito que pensamos ser de verdade. Fico feliz de saber que eu me contento com pouco;  que tudo que é sofisticado não tem muito poder de atração sobre mim, porque – bem sei – até onde meus pés alcançam posses.

Só não aprendi ainda a lidar com as minhas emoções, meio fortes demais para a convivência com pessoas que não costumam demonstrar o que sentem. Andei ganhando muito nos últimos anos. Prestígio, reconhecimento, amizades que nunca se foram de minha vida, mesmo que anos tenham passado. Amo todos e tudo com afinco e, pra dizer a verdade, estou me policiando para dar um freio a esta maneira de ser, que me machuca até lágrimas aparecerem e que, ultimamente, pouco tem tirado sorrisos francos de meu rosto, uma das minhas melhores atitudes.  

Andei perdendo também.  Perdas e ganhos fazem parte... Mas tem algumas perdas que nem precisavam ter a oportunidade  de ter entrado aqui. Poderia ter sido poupada de noites e noites de saudade, lembranças e vontade de reverter o meu dodói em alegria contínua.
Fico divagando e esqueço de dizer que Nega e eu descobrimos os wrinks da conversa instantânea e parecemos duas crianças brincando de bola num campo de futebol molhado. Cada uma mostra a sua nova figurinha e rimos das coisas simples que fazemos todos os dias.
 
Nega voltou a escrever há dois dias e ficou tão feliz por redescobrir o prazer de escrever depois da cirurgia que a deixou frágil e deprimida, que mandou a bela crônica para todos os irmãos e filhos, com um “Leiam, por favor”, ao invés de colocar um título. Legal ser irmã da Nega...

Permito-me viver um dia de cada vez e que a tristeza daquela “perda” está cada vez mais distante e que novas alegrias preencherão minha vida. Sigo o fluxo e vejo que pra baixo, no quarteirão,  tem uma pessoa pensando da mesma maneira que eu.


 
Domingo de horário de verão, outubro de 2010
Bom domingo!!!


Imagens Google

Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 17/10/2010
Alterado em 29/12/2010


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