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Textos




Bater em retirada

Sunny Lóra
 
 
 
Embora seja doloroso abandonar um sonho, às vezes é a única coisa inteligente a se fazer. (S.Carter)

 
 
Deparei-me com cisnes duas vezes durante esta semana. A primeira  foi numa cena de filme, onde o personagem explicava que o cisne canta a mais linda canção quando pressente a hora de ir embora para sempre. Um cisne vive aproximadamente 25 anos e sua beleza é mostrada todos os dias, nos encantando.



A segunda vez foi hoje de manhã, ao acordar. Pensei no patinho feio, aquele da historinha infantil e em como ele se transformou em um cisne belíssimo, após ser rejeitado por sua mãe e ser acolhido por coleguinhas naquele lago bonito que a gente vislumbra, quando pensa em suas penas amarelinhas, batendo as asinhas para os novos amiguinhos, sob o olhar cuidadoso da Substituta Mamãe Pata. Na verdade, a expressão “canto do cisne” é apenas uma demonstração de que algo chega ao seu final, sem que haja uma continuidade plausível. É o final e fim!

 
Sentimos, por muito tempo,  um cheiro de bolo de laranja molhado com o açúcar mais fino, numa embalagem de dar pena de abri-la. É o “bem-casado”, aquele pedacinho de doce que é servido ao final das festas de casamento. Claro que nem todo o casamento tem bolo assim, mas é uma forma de desejar ao casal uma vida plena e feliz, o que é esperado por todas as pessoas que choraram de emoção ao ouvir as juras eternas e os rostos lindos do casal na bela cerimônia.


 
A paixão e entrega de um para o outro são as melhores sensações que passam pela vida de jovens, homens e mulheres maduras, velhinhos e bebês. O contato primeiro, o da amamentação, é o aconchego entre a doação e troca de amor que irá nos acompanhar ao longo de nossa vida. Depois, mais crescidos, hora de ir para a escola e a mão segura de uma pessoa nos leva até a próxima etapa de aprendizado. A faculdade, o primeiro emprego, as dificuldades de estudar matérias com as quais não temos afinidade, os amigos surgindo, aquele colega de trabalho que tem atitudes de competição aberta, os namoricos, as paixõezinhas e outras grandes e finalmente o casamento ou o juntar de trapos – inevitável para muitos - o nascimento dos filhos, e toda a repetição de um ciclo após outro, até que tenhamos cumprido nossa missão nesta vida.
 
Quando o amor acontece de verdade e escolhemos aquela pessoa que vamos amar, em nosso coração fica a certeza que podem vir muitos outros amores, mas aquela será definitivamente nossa dona e nos acompanhará para sempre, mesmo que muita dor e saudade possa surgir, um dia. Numa relação pautada em respeito mútuo, cada um tem seu espaço sem que o outro interfira. A auto estima aumenta, ficamos mais confiantes e sabemos que cada um tem um lugar na vida visivelmente seguro.

Se isso não ocorre, a queda é consequente e vertiginosa; nossas dores vão aparecendo devagar e dão lugar a  lutas constantes de não olhar para trás, não sentir sabor daquele beijo único na terra - na "sua" terra, digo. Nunca será o bastante pensar vinte e cinco horas por dia naquela pessoa que um dia foi o seu amor, o seu amigo e que foi embora.

 
Cantou o canto dos cisnes! Finito, acabado, caputz, the end!
 
Implorar que ela lhe explique todas as razões para o fim do seu sonho dourado de bolinhas azuis é perda de tempo; nada do que ela lhe disser vai fazer com que se aceite como verdadeiro. Aquilo que queremos de volta não será, nunca mais, a mesma coisa, nem se houver uma retomada. Superar a dor de uma perda – algumas vezes até duas, três - muito amargas -  leva tempo. Este tempo é um infinito de ponteiros de relógios dando milhares de voltas em torno das horas que nos torna tristes, incapazes e ficamos nos perguntando indefinidamente onde foi que ... onde foi que... como isso foi acontecer logo comigo...

A atitude mais sórdida de uma pessoa que um dia nos amou e desistiu de nos amar é aquela  indiferença que bate à sua porta, quando você tanto precisa de apoio. A proposta de ser amigos é inválida, burra, infantil e impossível de acontecer. Enquanto um dos dois ainda ama, não haverá amizade jamais. Ninguém nasceu para ser santo na terra, onde um ama sozinho e o outro se diz amigo.Cometer o erro de mudar o rumo de sua própria vida em favor de outra pessoa é deixar com que a sua própria se perca.

 
Amar é outra coisa. É partilha, confiança, fidelidade, respeito e sobretudo, paciência. Os cisnes estão aí para nos mostrar como a vida nos ensina lições fortes e verdadeiras, quando “perdemos” aquele ser que mais amávamos.
 
Na verdade, o canto do cisne, para mim, é a mesura em agradecimento por uma convivência plena em águas límpidas.
 
 
 
Domingo de primavera chegando, dois mil e dez.
 
 
Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 19/09/2010
Alterado em 29/12/2010


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