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Textos



Passou um avião por aqui
 
 
 
“Escolho mudar meu pensamento e as palavras que uso. É com alegria que aprendo a me amar cada vez mais. Tudo está bem no meu mundo.” L.Hay
 

 
 
É estranho ver um avião passando sem fazer nenhum ruído. Como tem ventado muito, fecho a janela do escritório e através dela vejo a vida passando, com sóis enormes ou chuva fina, até onde os meus olhos e o coração desejam alcançar. Neste espaço onde eu moro hoje, alguns anos atrás havia uma casa que abrigava um jovem casal, dois filhos, muitos pássaros, três cachorrinhos, dezenas de plantas, uma mangueira, duas goiabeiras e um pé de graviola. A vida veio e levou todos, um a um, para a continuidade de seus caminhos. As crianças cresceram e estão felizes em suas próprias casas e famílias. Benjie, Teca e Layka foram morar naquele Jardim do Céu dos Cachorrinhos. As árvores foram destruídas por um imenso trator e foram substituidas por um enorme espaço de lazer. De tudo que havia na casa, algumas peças enfeitam hoje o lugar onde o pai mora, ao lado do imenso mar. Não tenho sequer um quadro que me faça relembrar aqueles tempos, mas cada pedaço daquele canto querido está muito vivo, até a poeira dos móveis que compunham a imensa e bela casa.

 
O final de semana tem sido muito silencioso de uns tempos pra cá. Nossa família é festeira, alegre, muito italiana. Extremamente amorosos, nossa sensibilidade ultrapassa a de alguns de nossos amigos, porque somos emotivos por natureza. Falamos num tom de canção que aumenta os acordes conforme o relato; é bonito ver os membros de nossa família contando historias, principalmente as tias, irmãs do nosso pai. O sotaque fechado de quem mora em terra fria mistura-se com  montes de palavras totalmente desconhecidas para muitos. Fascina a quem vem de fora e ouve com atenção...
 
Sei que estou rodeando uma palavra que está aqui no meu pensamento desde que comecei a escrever...
Passou um avião por aqui e eu fui fazer uma visita ao nosso Pai, que deve estar tomando café ao lado de Santo Antonio. Dizem que o ser humano dá mais valor quando perde. Nosso pai tinha valor o tempo todo. Sua humildade era destacada e seus gestos ainda estão muito vivos em cada um de nós. Papai tinha uma mania engraçada de esfregar as mãos quando estava feliz. Quando sentia-se triste era fácil de saber. Calava-se num cantinho e rezava. Era de uma religiosidade que nos impressionava. Não era uma repetição de orações; mas fé viva e constante. A mistura de saudade hoje bateu forte porque inventaram este dia. Pra mim, todo dia tem aviões passando. É para o papai que escrevo hoje, misturando assuntos. É porque tem tempo que eu não converso com o papai e ele precisa saber de tudo que quero lhe falar...

 
Cada momento de nossa vida é especial. Até a dificuldade – momentânea, espero - que tenho encontrado para escrever tem um valor imenso para mim, pois tem sido uma verdadeira aula de paciência, com algumas recaídas, numa mistura de revolta e pena. Nosso pensamento está na permissão de que tomem conta de cada pedaço, deixando rastros bons e outros que desafiam a capacidade de superação. Se não soubermos pintar, algumas pinceladas tímidas resultarão num belo quadro, aos olhos de quem quiser vê-lo como belo. Alguns possuem o dom de fazer fluir as letras como águas mansas de um riacho. Outros passam tão silenciosamente por nós que nem ouvimos sua respiração.
 
Está tudo bem comigo! Continuo me alegrando com as dezenas de filmes que assisto, com os muitos abraços que espalho nos corredores e leitos do grande hospital, com a descoberta de uma folha nova no meu pé de erva-cidreira, com as manias da Nina, meu celular novo e cor de rosa, - que ganha Bons Dias, sim - a minha pele sendo renovada por dentro e por fora. Continuo apaixonada... mas sempre fui, né?
 
Está tudo bem comigo! Nem fiquei zangada quando o rapaz furioso resolver dar um soco no capô do meu carro, formando um buraco. Culpa minha... Devia ter-lhe dado mais atenção quando ele me pediu “só cinco reais” para cuidar dele enquanto eu ia comprar algumas coisinhas na feira. Nem me surpreendeu a briga na fila do supermercado. Bem feito pra mim, de achar que beleza física acompanha a educação. Aquele homem atraente colocou uma pessoa na fila, foi fazer suas compras e abriu caminho com o carrinho abarrotado de compras. Claro que a pessoa que estava atrás chiou... Fiquei com vergonha de ser a esposa dele. Ainda bem que não sou!
 
Está tudo bem comigo! O avião já pousou. Deve ter trazido algumas pessoas pra dar um abraço nos seus pais.
 
 
Bom domingo!
 
Domingo do Dia dos Pais, no ano de dois mil e dez.
 
 
 
 
Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 08/08/2010
Alterado em 29/12/2010


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