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Textos



O muito de todos nós
 

 
“Mary & Max (Mary and Max, 2009), animação longa-metragem  escrita e dirigida por Adam Elliot, é uma exploração de improbabilidades. O filme tem em sua premissa uma chance ínfima e acaba ele mesmo um em um milhão: uma produção com personagens de massinha que resulta absolutamente tocante.” – Parte de crítica lida sobre o filme.
 

Como eu faço todas as sextas, há vários anos, vou ao cinema. Escolho os Cult-Movies porque não lotam as salas e sairei dela com a certeza que assisti algo muito proveitoso. Repare que os Cult-movies são escolhidos para públicos exigentes, dos quais tenho a honra e curiosidade de fazer parte. Tem uma sala de cinema em Vitoria que nós nos sentimos no sofá de nossa casa. O administrador é uma pessoa atenciosa, confere pessoalmente se estamos confortáveis e ainda nos faz uma pequeno discurso de boas vindas, nos dá dicas; adapta horários para que todos possam assistir. É muito bom isso. Não gosto muito de desenhos animados, mas tenho imensa vontade de rever o Pica-pau, Tom & Jerry, exatamente como eram, com aquelas televisões imensas e pesadas e em preto e branco!

Nesta sexta, poucas pessoas sentavam-se confortavelmente para mexer com todas as emoções, até as que não existem dentro de nós. Não prestei muita atenção à chamada do filme e confesso que fiquei um pouco decepcionada pelo seu começo, apresentado com bonecos feitos de massinha e nada bonitos. Achei que era apenas a apresentação e que logo pessoas de carne e osso iriam aparecer na tela. Passados cinco minutos, tive que me conformar em assistir a uma animação, cujas cores cinza e preto se contrastavam por um ponto vermelho na forma de lábios ou um simples boné.

Mary é uma menina australiana solitária e gordinha, com mãe alcoólatra e pai apagado, não querida e não popular na escola. A solitária menina abre uma lista de endereços mundial e encontra Max, um senhor de meia-idade, gordo, sozinho e cheio de manias, morador de Nova York.  Começa aí uma amizade de décadas, através de troca de cartas, perguntas e respostas e a emoção de somente quem sabe o que é ter um “pen-pal”(correspondente). O filme tocou-me tanto que saí do cinema meio perdida, quase sem direção, com um nó enorme na garganta. 

Entretanto, dizer que o que mais me tocou no filme foram os desenhos para demonstrar ao Max como se faz para  sorrir ou ficar triste, que ele guardava cuidadosamente em uma de suas gavetas. De vez em quando uma rápida olhadela e o Max estava devidamente orientado em como se portar. Não cabe a mim contar a história tocante de Mary e Max, cujos personagens são “apenas” bonecos animados de biscuit.

Nosso tio deixou Santa Teresa bem jovem, à procura de novos horizontes. Foi através de seu trabalho nos Correios e Telégrafos que ele nos incentivou à leitura. O mundo fascinante das cartas e selos tornou-se parte do meu mundo. Seus dias eram passados no meio de muitas cartas e ao final da tarde, ele dava longos passeios ao lado dos trilhos do trem da pequena e fria cidade onde começou a vida profissional.  O tio gosta muito de leitura e é uma das pessoas mais cultas e inteligentes que conheci. Ele tinha vários amigos que eram seus correspondentes e sempre nos indicava um ou outro para escrever-lhes. Assim, aprendi a fazer amigos e amigas por correspondência. Apesar de ser  "relativamente jovem" ainda, meu mundo dos papéis e cartas guardadas cuidadosamente em caixas de papel crepom, com fitas vermelhas já se vai um pouco longe.

A fita vermelha ao redor dos envelopes brancos e um enfeite verde e amarelo à sua volta, era uma maneira de mostrarmos que lá estavam guardados segredos e troca de informações, muito nossos. Colocávamos uma gota de perfume em nossas cartas, nossa amizade era carregada dentro de um envelope e levava dias e dias para que chegasse ao destino. Com Mary e Max era assim. Perfeita conexão, numa mistura de inocência e puro amor.

Nosso mundo tornou-se virtual. Até os amigos das mesmas cidades não se encontram para um café. Muitas vezes esbarramos com alguns deles e os reconhecemos. Ao nos aproximarmos, geralmente a recepção é calorosa, mas dura apenas alguns minutos e logo o “amigo ou amiga” recolhe-se ao seu mundo real, do qual não fazemos parte. Muitas pessoas que estão nas redes sociais são pessoas extremamente solitárias e que sentem-se felizes ao receber um abraço virtual, ou uma atenção que em seu cotidiano isso praticamente inexiste. Pena que muitos confundem ofertas de carinho como “belas ou belos da tarde”.  Algumas pessoas colocam um paredão em seus perfis. Na primeira oportunidade dirão que a sua vida é regida por uma bela menina de tranças ou uma princesa de olhos azuis, ou um príncipe montado num cavalo verde, que são felizes,  amados, adorados e tem o melhor casamento do mundo.
 
Os solitários que se recolham aos seus momentos de partilha, tão preciosos e tratem de compreender que o muro é de concreto e não de algodão. Claro que minha observação não é geral. No mundo da net conheci pessoas que tornaram-se meus amigos e amigas de verdade. Conhecem se estou triste ou alegre pelo cheiro que as letras enviadas emanam do teclado. Mesmo assim, insisto em dizer que Max e Mary ficaram carimbados no meu coração para sempre.


Obs. Como sempre, acordei cedinho e fiz a minha crônica de domingo. Infelizmente eu a perdi com uma das revoltas chatas do meu computador. Fui ao encontro da Associação dos Amigos do Convento, já almocei e agora tentei escrever “mais ou menos” o que havia escrito. Menos mal, porque no primeiro texto eu falei algumas coisitas que agora não teria coragem de repeti-las.

Bom Domingo!
 
 
 
 
Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 01/08/2010
Alterado em 29/12/2010


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