free web counter
Textos


A Floresta é azul e o Mar é verde
 
 


Manguinhos é parte da minha vida desde que nasci.
Fui moleca em cima das pedras da chaleirinha,
catei muito guruçá à noite à luz de lanternas,
fugi pro meio do mato, peguei muita onda nas baixas...
E cresci ouvindo o barulho do mar.
Hoje já sei se a maré enche ou vaza, se o vento vai mudar,
se a água vai clarear, essas coisas. (Sylvia Abaurre)
 


 
Eu era mocinha quando vi o mar pela primeira vez. Nunca saí de minha doce Santa Teresa até os 13 anos. Meu mundo era cercado de verde por todos os lados e poros. Para qualquer lado que eu olhasse ou caminhasse tinha o verde sempre me acompanhando. Das grandes árvores pintadas de violeta de silencioso abril e de amarelo em alegria de fevereiro, algumas delas jogavam um espelho para nossos olhos, com suas imensas folhas.

Cada casa tinha uma trepadeira, um muro de avencas, pés de Ipês plantados com a certeza que um dia eles enfeitariam as vidas do povo simples. Algumas casas tinham pés de café no jardim. Alfazemas exalavam um cheiro especial. Quem vive nas montanhas sabe como é fascinante o convívio dos matizes de verdes. Conheço pessoas de Santa Teresa que nunca viram o mar; estão idosos e nunca saíram de seu porto seguro. Papai somente veio a Vitória para cuidar da saúde, mas seus olhos pequenos ficavam tristes. Sentia saudade de seu pequeno pedaço de verde.

 
Minha amizade com a água profunda do mar durou alguns longos minutos. Nas minhas primeiras férias com a família Cavalieri, amigos de longa data, tomei um “caldo” tão grande do Antonio Victor que foi aí que eu pensei seriamente na existência de ajuda divina! Não sabia nadar, tampouco tinha idéia da força da água do mar. Quando ele disse que tinha um cisco no meu olho, eu acreditei e foi aí que fiz uma viagem ao mundo da água verde, que nunca parecia acabar. Assustada e com alguns litros de água no estomago, foi assim que eu me tornei amiga das areias e das beiradas das praias. Nunca mais entrei no mar e meu professor de natação já desistiu de me considerar uma de suas boas alunas. Enquanto as outras nadam, eu faço exaustivos exercícios com peso nos pés.
 
Os castelinhos de areia eram feitos com a ajuda de palitos de picolé. Com eles eu montava caminhos lindos e muito me encantava pegar na areia molhada com os meus dedos, soltando-a devagar e formando as esculturas que minha mente formava. O sol castigava a minha pele clara e, ao final do dia, eu era uma mistura de camarão saído da panela e beterraba cozida. De nada adiantava espalhar maizena no corpo, eu ficava dias e dias sem andar corretamente. Mas valia a pena... Mamãe mandou fazer um maiô de duas peças, que tinha uns babadinhos; era muito lindo. Eu lavava o pequeno maiô todos os dias, guardava-o e esperava o próximo domingo de férias (eram exatamente dois domingos) - quando eu seria a dona da areia da praia!
 
O grito tímido do menino do “Peucoléu” ainda ecoa nos meus ouvidos. Fico imaginando onde ele está agora. As toalhas de banho eram previamente escolhidas para ser a nossa toalha de praia. Farofa, arroz e frango assado era o almoço de todos. Laranja e banana, guaraná e água, sem esquecer cocadas como sobremesa e ao final do almoço, um “peucoléu” delicioso de coco queimado ou de araçauna – eu gostava tanto que se ganhasse um de coco queimado sentia o gosto de araçauna e vice-versa.
 
Não usei lanternas de noite à procura de guruçás, mas levei flores a Iemanjá a cada novo ano. Hoje o mar faz parte de quase todos os meus domingos. É sentada em seu tapete de areia que eu vejo as nuvens de carneirinhos, que tantas vezes me fizeram versejar em pensamento, saindo correndo à procura de um lápis e um papel para não perder as palavras dos meus versos. O meu corpo recebe os raios de sol de meu mar, não sem antes proteger a minha pele branquela.
 
Enquanto isso, imagino que a floresta é azul, porque mesmo que esteja bem no meio dela, consigo enxergar o céu. O mar é verde porque eu planto centenas de árvores que dançam em suas águas.
 





 
Bom domingo!
Imagem do Mar de Manguinhos by Sylvia Abaurre


(
Sem revisão ortográfica)
 

 
Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 25/07/2010
Alterado em 29/12/2010


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras
art by kate weiss design
www.amordepoeira.com -- Academia Feminina Espirito Santense de Letras - AFESL -- www.afesl-es.ning.com