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As árvores de Iriri

 
 
Iriri, um balneário do sul de nosso estado, começou a fazer parte de minha vida muitos anos atrás. Era aquela época mágica da minha vida, quando descobri o sabor da água do mar, com aquela que passaria a ser a maior amiga que eu tive! Seu nome era Maria Bento e seu apelido era Dindinha. Era pequena e muito magra e se desse um vento mais forte, lá ia a Dindinha pro chão, literalmente! A família dizia que a Dinha tinha ficado de costas pra que a Princesa Isabel assinasse a Lei Áurea! Ninguém sabia qual era a idade dela nem que dia era seu aniversário.
 
Tinha uma personalidade forte, mas era uma benção em nossas vidas, pois participava de todas as atividades da família com prazer. Adorava um churrasco e cervejinha, quando contava a sua vida de trás pra frente e de frente pra trás. Amava os irmãos e irmãs, separados por força de circunstancias – pobreza mesmo. Quiséssemos ver a Dindinha sorrir era dar um copo de cerveja pra ela!

Quando se zangada calava-se, assumia uma expressão séria e assim ficava, por vários dias. Devagar o sorriso voltava... Fazia uma comida deliciosa. Com os mesmos ingredientes que se usa num arroz, por exemplo, o dela tinha um sabor diferente, especial.

 
Dindinha tinha um carinho imenso por mim e nos tornamos tão amigas que meu filho número dois é afilhado dela. Foi Dindinha quem me ensinou a usar melhor os meus olhos nos passeios que fazíamos com as crianças. Ela dizia  que eu prestasse atenção no quintal das casas  porque um dia eu ia ter a minha própria casa e já teria uma idéia de como seriam plantadas as árvores, a horta... Bem, a horta não – ter uma horta de verdade sempre foi um sonho meu, não realizado.  Hoje, o máximo que eu consigo plantar aqui são cebolinhas, salsas, erva-cidreira e boldo, dentro de pequenos “canteirinhos” de plástico. Eu trato as minhas plantinhas com tanto carinho que eu tenho certeza que elas me ouvem quando falo com elas.
 
Meus domingos ficavam mais alegres quando eu ligava pra minha companheirinha e a convidava pra ficar comigo e os meninos. As mãos habilidosas de Dindinha tiravam as folhas secas das plantas e eu prestava atenção a tudo que ela fazia. As árvores, que foram plantadas por mim, chegaram, finalmente! Pau Brasil, buganvílias, alfazemas, pinha, goiaba, manga... Os araçás vieram de presente; estes eu não os plantei. Tinha vários pés que a natureza me deu e os danadinhos eram enormes e deliciosos! Dindinha acordava cedinho pra colher as frutinhas e as colocava estrategicamente ao lado de minha xícara de café.
 
Iriri passou a ser o meu canto preferido nos finais de semana, onde eu passava “pelos quintais dos outros” e pedia uma mudinha de planta. Tá certo que, de vez em quando, Dindinha e eu surrupiávamos uma ou outra mudinha de flores de casas fechadas durante a estação de inverno. Quem já não fez isso na vida? 

No verão não visitávamos os quintais de ninguém...  Era hora de aproveitar a praia junto com a família e ainda sinto no ar as gargalhadas que ela dava, quando uma onda maior vinha a seu encontro... E lá ia Dindinha pro chão do mar, enquanto corríamos para colocá-la de pé novamente.

 
Dindinha ficou com a família durante mais de setenta anos.  Ela tinha um amor imensurável por Ruy e Zezé e pelos meninos Ruy, Rogério e Roberto e todos os que vieram depois deles – eu incluída, pacote completo!
 
Quando ela nos deixou, já velhinha e muito doente, meu filho numero um colocou a única orquídea que tínhamos pra que ela a levasse junto.

Dindinha ainda é “uma árvore imensa” no meu coração, fincada com terra da melhor qualidade.

 


 
Sunny Lóra, domingo de junho de dois mil e dez.
Bom domingo ensolarado e feliz!

Ilustração: As verdadeiras árvores que plantei - Iriri - ES

Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 20/06/2010
Alterado em 29/12/2010


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