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Textos



Sempre aos Domingos
 
 
Valorosa
 
 
 
Esta noite não consegui dormir. Algo me incomodava e não sabia identificar. Geralmente quando me sinto ansiosa eu faço orações. Não sou de ficar levantando da cama, não me desespero com facilidade. Vejo a vida como um presente, com todas as suas alegrias e lições – às vezes por demais difíceis de aprender - que ela nos proporciona.
 
Nega nasceu Maria Cecília, primeira filha de Primo Fiori e Melinda, muito jovens. Mamãe era doméstica com 17 anos, lavando toneladas de roupas de uma família imensa, limpando chão com palha de aço, cozinhando, passando, das 5 da manhã às 7 da noite. Era mamãe, como filha mais velha, quem levava alimentos para nossa avó, viúva e com 9 filhos ainda pequenos.
 
Mamãe conheceu nosso pai da janela do casarão enorme que limpava todos os dias . Ele era ajudante do meu tio Joanin, um italiano que possuía um armarinho. Papai não conseguia trabalhar porque estava encantado com a beleza loura e de olhos verdes e muito sérios, que nunca sorriam. Em pouco tempo estavam casados.
 
Moravam num brejo, muito longe do povoado, onde sapos coachavam e ficavam escondidos na densa vegetação de montanha. Nega tinha pressa de chegar e foi a primeira dos cinco. Mamãe se desesperava porque não tinha leite e Nega era faminta. Papai, que tinha uma inteligência acima da média e, já naquela época, procurava soluções para todos os empecilhos. Comprou uma latinha de leite condensado, colocou uma colher dentro de uma mamadeira, misturou com água e deu pra Nega. Em pouco tempo um bebê lindo foi crescendo, com dobrinhas nas pernas! Logo veio a Tica (Eloíza) e depois de alguns anos, a Sonia, O Toni e o Paulo. Somos extremamente unidos e amigos.
 
Nega disse que eu nasci atrás de um montinho de areia. É dela que quero falar... como sempre falo aqui...
 
Nega tornou-se a minha “mãe” postiça. Cuidou de mim a vida inteira, pelo pouco tempo que vivemos juntas. Ensinava-me as lições da escola e com o dom da escrita (que já possuía ainda menina) desenvolvia redações maravilhosas, fruto de sua imaginação lindíssima. Nega cuidava da casa e dos irmãos, ajudando nossa mãe em tudo e aproveitou muito pouco a sua infância e adolescência,
 
Eu tenho tanta veneração por esta menina-mulher que tudo que ela sente eu também sinto. Nega me ensinou a ser boa, a não dizer “não” para tudo que é positivo, ensinou-me a sorrir, gargalhar, brincar... e o pouco que sei desta tarefa de ser uma pessoa “boa”, foi com ela que eu aprendi, herança direta de nossos pais, evidenciada na postura indefinidamente linda de nosso Pai, Primo Fiori e nossa Mãe, não menos bela, Melinda.
 
Um dia, um senhor, 17 anos mais velho que ela, foi trabalhar em Santa Teresa e se encantou pela nossa Nega.Casou-se com 15 anos, deixou a escola e daí a sua vida se resumiu em uma casa de dois quartos e um quintal e quatro filhos "em escadinha".  Muitos anos depois ela começou a trabalhar no Cartório Eleitoral, profissão que deixou há um ano, por força de circunstancias - desnecessário citá-las. Só quem vive com um doente de Alzheimer sabe o tamanho da força que deve ter.

Não vou contar nossas estorinhas hoje... Hoje, porque é domingo e poderia ser segunda... eu choro. A doença de Alzheimer no esposo, há dois anos, veio virar a vida de Nega e seus filhos de cabeça pra baixo.
 
Tudo que eu peço à Deus Pai é que minha irmã fique boa de saúde, porque a sua beleza e bondade interior são muito maiores que se possa, um dia, imaginar.

Nega
está na UTI, o coração dela está cansado. Vai dar tudo certo, vai sim...


 
 
Sonia, 25 de abril de 2010

Desejo a todos um Bom Domingo.



NOTA : 13 DE MAIO DE 2010 : Minha irmã volta para casa, com cinco pontes de safena. Deus seja louvado!
 


 
 
 
 
 

Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 25/04/2010
Alterado em 29/12/2010


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