free web counter
Textos




Os óculos do Pedro


 
Pedro Broseghini tinha uma família imensa, dez filhos em escadinha, todos começando com a letra N. 

Dona Olga, a mãe,  se esforçava para criar a turma e sempre cuidaram para que seus filhos tivessem o melhor. O casal era humilde e dava duro para sustentar aquela filharada.


Ele, o único barbeiro da cidade, dizia, orgulhoso:

- Eu fico sem comer, mas os nossos filhos, não!

Todos eram lindos, muito educados, carinhosos e sorridentes e bem cedo aprenderam a profissão do pai. Adorávamos visitar aquela família feliz, a apenas alguns passos de nossa casa. O que mais chamava a atenção era o muro de terra da imensa casa, repleto de avencas que a natureza plantou. Coisa mais linda!

Os filhos foram estudando, saindo da terra, os outros ficaram e vivem ainda na nossa Santa Teresa; são vovôs e como o pai, muito alegres!

O tempo foi passando e o Signore Pedro continuou cortando cabelos e fazendo barbas da turma. Tinha paixão por orquídeas, motivo pelo qual sempre convidava seu amigo Armando Loss, para juntos subirem as montanhas à procura da linda flor. Sempre dizia que só tirava uma mudinha, para que as plantas não acabassem.

Andavam morro acima, com um embornal no ombro, com pão e linguiça , para quando a fome apertasse. Passavam quase o dia nas matas, pois eram altas e muito longe de suas casas.


Quando o Pedro e o amigo Armando chegavam com os sacos nas costas, nem sempre com boas mudas de orquídeas, para enfeitar seus orquidários, ninguém dava muita atenção. Achavam até que era maluquice deles. As orquídeas não tinham o valor que tem agora... – Levemos em consideração que estas visitas às matas foram há mais de cinqüenta anos atrás e os dois amigos nunca tiveram responsabilidade sobre a destruição de qualquer pedaço delas, que ainda continuam perfeitas, lindas... Podem ir lá ver, se quiserem!  

E assim S. Pedro levava a vida.
Numa noite, fim de pescaria das lindas flores – que incluía uma passada no rio pra pescar também alguns peixes -  e com o embornal já bem cheio, lá pelas altas horas, vinha ele lá do Canto da Penha (onde as matas e o rio eram mais repletos). Satisfeito, porque garantia aí o almoço da molecada no dia seguinte... Um peixinho frito caia muito bem... pensava ele alto pro amigo Armando, que balançava a cabeça todo feliz por estar com o querido companheiro.

Quando chegou em casa deu falta dos óculos. Não podia ficar sem eles! Como iria cortar cabelo sem os óculos?

Então falou pra D. Olga:

- Eu vou voltar e tenho fé que vou achar!

Ele queria achá-los, pois senão precisaria comprar outro e era mais uma despesa.  Lá foi ele. Naquele tempo, não havia asfalto e tão pouco tantos veículos como hoje. Quanto mais à noite! Então se ele tivesse perdido na estrada, ficaria fácil achar os óculos. E pensando assim saiu de novo, agora em outra missão, achar os óculos!

Era longe, estrada de chão e poeira, mas sabia, que quem procura acha, então... De cabeça baixa e fixa no chão da noite de lua, foi ele estrada à fora. Qual não foi a surpresa!


Seus óculos brilhavam no meio da estrada. Ficou feliz!  Mas, lá naquela estrada que quase não passava um único carro, não é que veio um e passou em cima de seus óculos?  - Coitado do Seu Pedro...

Voltou triste, e no dia seguinte procurou o amigo Atilio Bringhenti para comprar novos óculos.

Mas este é outro caso a contar e vamos contar com o maior carinho.
Na nossa terra ainda existem homens como o Signore Pedro, que Deus levou pra junto dele, faz alguns anos.

Saudades ...

 


Maria Cecília Sancio Loss, contando mais um conto...

Imagem : Grupo Imagens Diárias - moldura by Sunny
Orquídea em homenagem à Familia Broseghini - Santa Teresa - Espírito Santo


Obs. Armando Loss é o esposo de minha irmã, Maria Cecília.



 
 
 


Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 08/08/2009
Alterado em 20/10/2011


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras
art by kate weiss design
www.amordepoeira.com -- Academia Feminina Espirito Santense de Letras - AFESL -- www.afesl-es.ning.com