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Textos




Pombo-Correio para Mamãe
 


Vida de Hoje, Maio de 2009
 
Querida Mamãe,
 
Pensei em fazer um poema, mas o pensamento voa até o lugar que vivemos... Com o passar dos anos a vida foi mudando e as lembranças ficaram... A Cecília, nossa irmã mais velha e tão especial para todos, enviou-me este texto há alguns dias, para a nossa parceria usual do "Sábado é Dia de Prosa".  Eu queria algo que lembrasse a brincadeira do Passa-Anel e ela me envia esta preciosidade!  Uma frase é dela, alguma outra é minha, e no final nem sabemos quem escreveu o que...





Lembrar da Senhora, Mãe,  de cabelos louros e cacheados, de olhos verdes e bonitos, com um sorriso lindo, é presente pra nós, seus filhos. Como é bom saber, Mãe, que ainda a temos aqui conosco! Quer relembrar um pouquinho? Olha só o que o Pombo-Correio nos trouxe hoje: Uma parte de nossa Vida de volta!

Da casinha simples na cidade do interior, do fogão de lenha, da mesa da sala, do jarro de flores com avencas. Tudo era diferente: a brisa que caia outrora nunca mais foi a mesma. Tinha um toque de pura suavidade. As montanhas eram verdes naturalmente, lotadas de árvores nativas da Mata Atlântica. Os pássaros cantavam pousados nos fios de eletricidade, que eram seguros por postes de ferro. Nossa rua era bonita e tranquila, quase não passava um carro – porque ninguém tinha carro, só bicicletas enfeitadas -  e nela a criançada brincava alegremente, todas  as tardes, principalmente aos domingos.

O passa-anel era uma brincadeira onde todas as crianças, sentadas no meio fio, de mãos postas, esperavam que aquele que estava com o anel o colocasse em suas mãos. Tinham que adivinhar em que mãos era deixado o anel. Assim até o fim! E todos participavam, pois ninguém queria deixar um amigo sem ganhar o anel.  O jogo de queimada, meninos contra meninas, advinha quem vencia, Mãe! O lado mais forte é claro : Meninos! (Deixe que eles pensem assim...) 

Esconde-esconde, um contava até 20 enquanto os outros se escondiam. Perdia o quem era achado primeiro e estava obrigado a contar e tudo começava de novo, com a mesma beleza e emoção. O teatrinho, o brincar de cantar, de recitar, tudo feito na rua nas tardes de domingo. Todas as crianças sabiam que havia brincadeiras, sem precisar de telefone, e-mail... (ops!)... isto não existia!


A comunicação era feita pelo amor que um tinha pelo outro. Na verdade eram todos irmãos. Que pena, acabaram os folguedos de domingo à tarde... Hoje as crianças passam seu precioso tempo defronte à tela de um computador, horas e horas,
nos joguinhos, "matando" mais pessoas quanto for possível. Eu mesma adoro um joguinho, onde eu destruo todos os inimigos do planeta e tento desesperadamente, salvar a Terra!


Você já viu, Mãe, que a grande maioria dos jovens fala e escreve um idioma cheio de palavras diferentes e que só eles entendem, porque são modernos... Que pena! Namoro naquele tempo, era namoro só de olhar. Os olhos se cruzavam e os sonhos não deixavam de existir. O coração batia forte!

Essas crianças eram felizes demais...  Saudades...saudades do café torrado e moído na hora. Que cheirinho bom...  Dos almoços de domingo, onde o macarrão e a galinha pé duro não podiam faltar. A sobremesa era sagrada, pudim de leite com coco e no lugar do refrigerante, o suco de frutas colhidas do pé.  Do fogão de lenha que ficava aceso o dia todo, pois a água tinha que estar fervendo ! A a visita não podia sair sem aquele café!

Do velho rádio, imenso, onde a senhora ouvia as novelas, cheias de efeitos, que as tornavam autênticas. Das missas do domingo cedo, onde as suas crianças, bem arrumadinhas, sentavam-se nos primeiros bancos da igreja. Se entendiam ou não, não importava! Afinal, eram participantes do coral e cantavam Ave, Ave, Ave, Maria...


Da chuva que debaixo dela corriam pelo caminho das águas, jogando água pra cima, no acorde de boas gargalhadas. Do banho de rio, era bom demais!  Praia, não sabiam o que era, só de ouvir falar. Alguém falava do mar lá longe, que só existia na capital. Da escola e da professora primária, que era adorada e respeitada. (Hoje... que falar do hoje?)

Da cidade que cresceu, que ainda conserva uma beleza rara, mas falta a pureza das tardes de domingo na rua da minha casa!

Viu, Mãe, deu saudades dos meus amiguinhos, onde estão todos? Tenho certeza que lembram de que tiveram uma infância tão pura, e que no pensamento de cada um vagueia a saudade e a vontade de viver tudo de novo.


Saudade, palavra tão-somente brasileira, agora enxuga a lágrima que cai de meus olhos.
 
Um beijo de sua filha, Mãe.




Texto em parceria com Maria Cecília Sancio Lóss, minha irmã, com muito orgulho!

BOM SÁBADO!




 
 
 
 
 
 


Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 09/05/2009
Alterado em 20/10/2011


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