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Textos


  Entre Araçás e Cachoeiras
 
 
Em minha vida passaram pessoas que não podem ser esquecidas... Convivi com gente que cumpriu sua estada na terra só fazendo o bem. Minha avó materna fazia parte de uma família, cujo lema era ser simples e honesto, qualidade que herdamos com muito orgulho!
 
Era composta de seis filhas e quatro filhos. Trabalharam na roça, num lugar chamado Valão de São Lourenço. A casa existe até hoje; ao lado do Capitel do Padroeiro São Lourenço e atrás de um pé de Flamboyant, que na primavera -  depois de quase cem anos de vida - ainda resiste -  e floresce... lindo demais! (Foi minha avó Eugênia que o plantou, quando tinha 8 anos de idade.)
 
As filhas se casaram e foram morar em outros locais. Minha avó Eugênia continuou perto de sua mãe, a Nona Velha. Tio Cezar, depois de casar-se, mudou-se para mais perto da cidade, abandonando a vida da roça para ser sapateiro. Tiveram uma filha e dois filhos, hoje executivos de quem nos orgulhamos muito e,  como ele dizia, os criou e formou todos com o conserto de sapatos e com a ajuda da tia, sua esposa Sabina, que lavava roupas pra fora. Era incrível visitar esta família, pois os lençóis brancos estavam sempre secando ao vento ao redor da pequena casa e um cheiro de café nos rodeava. Quanta ternura...
 
        Os três tios, Antônio, Frederico e Décimo continuaram tocando o pequena terra. Tio Antônio era casado com tia Madalena, que hoje está velhinha e debilitada. Tiveram filhos e os criaram com dificuldades e também como o tio Cezar, todos estudaram. Tia Madalena era uma mulher forte e sempre à frente dos negócios da família. Tio Antônio e os irmãos compraram um caminhão, o mais bonito da época, mas não sabiam dirigir direito. Era no roçado que Tio Antônio treinava a direção do veículo. Afinal, precisava dele para fazer fretes e assim aumentar o orçamento da família. É engraçado recordar que as pessoas diziam que ele só sabia ir pra frente, ré nunca!
 
Com eles moravam tio Frederico e tio Décimo (era assim seu nome, porque foi o décimo filho). Tio Frederico era solteiro, nunca namorou e sempre tranqüilo viveu para Deus e o trabalho. Ficou doente ao cair de uma ponte e tia Madalena cuidou dele como se cuida de um filho. Tio Décimo era solteiro e também nunca teve ninguém para repartir sua solidão, pois queria ser padre. Mas a Nona Velha nunca deixou, então ele se dedicou à Igreja e aos Santos. Lia muito sobre a vida dos grandes mártires e contava sempre para quem quisesse ouvi-lo. Narrava os fatos com tanto carinho, que passava para os ouvintes uma história bem real, onde era possível enxergar perfeitamente tudo que ele contava. Tinha um conto que era especial : Ele repetia incessantemente um fato da vida de Santo Antônio, toda vez que era rezado o terço, no capitel  aberto na saída da cidade, em direção ao Valão de São Lourenço.
 
Dizia ele que uma moça queria se casar e pedia e rezava para Santo Antônio que ele lhe desse um moço bom pra ela. Ela rezava, acendia velas diante da estátua do Santo casamenteiro e nada acontecia. Um dia ela se zangou e atirou a imagem dele pela janela. A pequena imagem se espatifou na cabeça de um rapaz que passava. O moço assustado bateu à sua  porta e ela veio atender.
 
- O que foi ??????????????  - disse, bem brava!
 
 E o moço, com a cabeça quebrada, perguntou:
 
- Só quero saber quem atirou esta imagem na minha cabeça?
 
A moça ficou envergonhada e chamando o rapaz pra dentro de casa, cuidou de seus ferimentos e daí nasceu o seu príncipe encantado com quem se casou. E o tio concluía:
 
- Santo Antônio faz milagres até pra quem não mais acredita nele...
 
Bela família essa da minha Avó Eugênia,  que nos deixou há muitos e muitos anos. Lembro-me com carinho dos folguedos, das tardes de domingo passados junto à Família Martinelli. Saíamos da pequena cidade e a pé chegávamos para passar o resto do dia lá. Comíamos frutas fresquinhas do pé, tomávamos café com pão de casa e doce de mamão verde. Era mágico... Ainda sinto o cheirinho... As jaboticabeiras abarrotadas  de frutos eram motivo de fascínio aos meus pequenos olhos ( e boca...). O que era mais bonito era o meu amor pelos araçás, à beira de estrada. Eu enchia a minha saia deste pequeno e delicioso fruto e sentava-me nas pedras que circundavam a cachoeira do sítio que jamais sairá do meu pensamento e minha visão de alma. Nesta cachoeira já sonhava com poemas, contos e fantasiava a vida de tal maneira, que a tornava real e mais bela do que já era...
 
... De bons exemplos e simplicidade era feita o Família Martinelli! Pena que hoje não posso mais falar pra eles o quanto eu os admirava, pois estão todos em outra dimensão, que acredito ser o Céu! Queria falar mais... mas agora preciso lavar os olhos com água.
 

 
 
 

O texto se completa com leveza e simplicidade, com a parceria de minha irmã, Maria Cecília Sancio Lóss. Na verdade, ela "escreve" junto comigo, é pura coesão de pensamentos. A ela, minha querida, orgulho-me de poder mostrar o que está guardado dentro de si há tantos anos e somente agora pode ser divulgado.


BOM SÁBADO!!!







Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 28/03/2009
Alterado em 20/10/2011


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