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Textos


Um amor de ator
Sunny Lóra
 

 

Tenho certeza que cada um de nós guarda lembranças maravilhosas da infância e juventude. Eu vivi muito pouco tempo em minha terra natal, mas o suficiente para escrever dez livros! Tudo era mágico naquele lugar – ainda tem um pouco de magia... pela exuberância da natureza. Que lugar bonito...e minha familia  "tudo de bom" ainda mora lá.
 
Dentre as atividades da igreja que eu mais gostava,  a semana-santa era especial e provocava um turbilhão de emoções dentro de mim.  A época da quaresma era uma fase de grande recolhimento, reflexão e respeito ao nosso querido amigo Jesus. Os santos eram todos envoltos em um pano roxo, em sinal de luto. Agora fazíamos parte das rezas de todos os dias, mas agora com a adição da via-sacra, que consistia em parar em cada um dos doze quadros que representavam o sofrimento de Jesus.
 
Todas nós tínhamos que estar preparadas... porque era de lascar, digo, de chorar mesmo!!!
 
Fazia parte da igreja um padre capuchinho, o  Frei Jorge. O danado tinha uma capacidade infinda de demonstrar seu pesar pelo sofrimento de Jesus. Ele era simplesmente fantástico ! Cada vez que parava defronte uma as figuras da via sacra, ele contemplava primeiro. Depois começava a narrar o que acontecia com Jesus. No final todos soluçavam dentro da igreja, sem exceção. Do jeito que o pequenino falava, fava pra sentir até os lamentos de Jesus e sua Mãe.
 
O Frei Jorge, além de ser um santinho – dizem que ele dormia no chão e se penitenciava muito – era um ator de primeira linha. Deus lhe deu o dom da palavra, da emoção. Sabe onde eu ficava ? Literalmente babando defronte o frei Jorge. Tinha que vê-lo falar, não só ouvir. E para vê-lo, pequenina do jeito que eu era, eu me espremia no meio da multidão, do alto dos meus cinco anos. As vias-sacras eram realizadas até a sexta-feira santa, quando era o dia que literalmente mataram Jesus.
 
Nesse dia a coisa pegava. Do alto do pequeno púlpito, o pequeno padre perdia a voz, de tão emocionado que ficava. E as pessoas, inclusive eu, víamos com toda a realidade que nossa mente e alma conseguiam alcançar, como Jesus tinha sofrido para nos salvar... O padre ficava lá e centenas de olhos arregalados e vermelhos olhamvam para ele, ouvidos atentos. Os olhos marejados de lágrimas, o corpo suado e sofrido... ele  fazia o sermão mais eloqüente do ano. Impressionante, de colocar muitos no chinelo. Igual a ele não existiu... pelo menos não nesta minha vida!
 
Depois da cerimônia da morte de Jesus, uma procissão com encenações que algumas pessoas que se destacavam na comunidade, pela sua beleza física ou pela voz, cruzava as ruas estreitas da cidade. As pessoas levavam velas enfeitadas e a cidade inteira comparecia. A procissão do Senhor era de uma singular beleza. Todos participavam com orações. As janelas das casas eram enfeitadas com altares, toalhas bordadas a mão, flores, imagens. Quando a “Maria Madalena” cantava – uma moça lindíssima e com uma voz maravilhosa – a cidade inteira se calava. Depois, todos iam de volta à igreja, para beijar o Senhor Morto.

Quando a procissão terminava, exaustos e emocionados, era hora de ir para as nossas casas comer uma torta de palmito e bacalhau, cuja receita vai  aqui mesmo, só pra dar água na boca e, quem sabe - alguém vai querer fazê-la. A torta é servida com arroz branco apenas.
 
Mas a tristeza duraria pouco... porque no domingo as coisas ficariam muito boas – Jesus ressuscitaria e a celebração da Páscoa era o ponto máximo da época! Aí, vestido novo... buracos dos sapatos tapados de novo... missa... macarrão, galinha assada, maionese, guaraná, pudim ! E... ovos de páscoa!

Quem está pensando que eram de chocolate ... claro que não ! Eram ovos de verdade, cozidos e pintados com lápis de cor ! Dava até pena de comê-los ... mas a gente não podia dizer que não ganhávamos ovos de páscoa. Quem ganhava os de chocolate que fizesse bom uso deles. A gente não tava preocupado com isso... depois de tanta festa a vida voltava ao normal... escola, deveres de casa, muito serviço dentro de casa... pão, macarrão, sapato furado, tanajuras, orquídeas, pescarias...

Torta de Semana Santa
Família Sancio - Santa Teresa - ES
(enviada por Maria Cecília Sancio Lóss)



 
Se vc tiver palmito in natura é só cozinhar, escorrer e refogar:
 
Numa panela coloque azeite, alho amassadinho, cebola picada, coentro pouco, tomate, azeitonas sem caroço. Depois de refogadinho coloque o palmito com sal a gosto. Prepare o bacalhau já dessalgado  e bem desfiado, refogando com alho bem amassado  e azeite. Coloque pedaços de batatas cozida e mal amassadas. Depois junte com o palmito e coloque 3 ovos, queijo ralado, farinha de rosca só pra dar liga. Unte um pirex com azeite e coloque o tudo, espalhe e bata 3 ovos inteiros e espalhe sobre a torta.  Levar ao forno pra dourar.
 



Obaaaaaaaaaaaaaaa vai ter torta na casa de muita gente, se vai...
 



 
 
Bom sábado!
Foto: Do quintal da casa da Nega
 
 
 


Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 14/03/2009
Alterado em 31/07/2010


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