free web counter
Textos


Saudade, Medo e Muito Humor!


 
À nossa maneira, desenvolvemos um jeitinho de conversar com o nosso pai, que nos deixou há algum tempo, muito a contragosto. Sempre que reunimos a família para comemorações, aniversários, almoços de domingo, damos um jeitinho de fazer uma visita ao papai no alto da colina, o que fizemos neste final de semana.
 
O lugar se destaca pelas árvores ao seu redor. Mangueiras, quaresmeiras, eucaliptos e muitas flores. Tem feito muito calor, mesmo na altitude de Santa Teresa. Combinei com a mamãe que iríamos visitar o papai depois do almoço, de tardinha, antes da festa de aniversário do nosso “pequeno príncipe”, o Dante.
 
Colocamos filtro solar, mamãe pegou sua sombrinha e eu meu chapéu branco, que adoro e subimos a colina. Cumprimentamos os avós, os tios e os primos que estão fazendo festa no céu, honrando a nossa italianice, e seguimos até o terceiro pavimento, onde papai, a Nona Cecília e o Nono Ú (apelido que eu adorava – Eu chamava o Nono e ele respondia : - “ÚUUUU”) descansam desta vida neste lugar que chamamos de Terra.
 
Comecei a contar as novidades pro papai, enquanto lágrimas teimavam em lavar nossos olhos.
 
- Pois é, pai, hoje é o primeiro aniversário do Dante, seu bisneto. Ele é lindo, tem olhos azuis e é brabo como um italiano que se preza! A Lara está cada dia mais linda e o Davi é uma figura incrível! Fora a Ana Clara, que vai chegar no dia 5 de abril... Que pena, né, pai, que o senhor não vai poder estar com a gente... Continuamos conversando com ele, como se ele estivesse à nossa frente.
 
Eu sou um pouco desligada e quando digo que sou transparente e invisível e reclamo que ninguém me enxerga, a culpa é um pouco minha também... mas não sei o que houve, enquanto mamãe acariciava papai em pensamentos, resolvi olhar pra frente.
 
Não sei o que pensei, quando olhei pela primeira vez. Um espírito não era, pois não tinha aura. Era de carne e osso, isso sim! Apenas sua cabeça aparecia à minha frente, em pé dentro de um túmulo vazio. Ao seu lado, no sopé do morro, um outro homem, de bermuda cinza e blusa preta...Olhei de novo... e comecei a pensar mil coisas.
 
- Estes filhos da mãe vão nos assaltar. Vão levar a sombrinha da mamãe, o meu chapéu, a minha câmera fotográfica adorada, as duas alianças que a mamãe usa e o meu anel de cinco aros que uso no dedo pra ninguém ver que não tenho aliança coisa nenhuma... Não, estes filhos da mãe vão estuprar a gente, vão bater na minha mãe... Eu juro que mato estes caras! Pensando bem, vou matar só o que está dentro do túmulo...eu vi primeiro!
 
Olhei de novo e ele já vinha em nossa direção, quando eu, com a máxima calma, falei com a mama :
 
- Mãe, seguinte... tem um cara seguindo a gente. A senhora me dá a sua mão e eu seguro na barra da sua saia. Vamos sair daqui agora, bem depressa, tá?
 

Tadinha da minha mama...84 anos e com certa dificuldade de andar depressa, rezávamos uma Ave –Maria e agradecíamos ao papai por ter nos “afastado do mal”. Saimos do campo santo tremendo da cabeça aos pés!
 
Resolvi dar a volta de carro e fui até a parte superior do lugar, onde um rapaz alto e magro saía de lá, com as mãos nos bolsos,tranqüilamente!  

Morrendo de rir, começamos a imaginar o que teria ido fazer dentro do túmulo vazio...
 
Rezar é que não foi, né?
 

 
Boa terça!
 
 
 
 
 


Foto : Buganvília em flor, foto tirada domingo, dia 8 de março de 2009, às 5 da matina, na minha cidade natal.
 
 

Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 10/03/2009
Alterado em 31/07/2010


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras
art by kate weiss design
www.amordepoeira.com -- Academia Feminina Espirito Santense de Letras - AFESL -- www.afesl-es.ning.com