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Textos


Os amendoins de Colodino
(Causos da Minha Terra)
Sunny Lóra
 
 
Num tempo que se vai tão longe... um dia apareceu em Santa Teresa um senhor moreno, baixinho e magrinho. Seu nome era Colodino. De Colodino pra Coló levou apenas um dia! Diziam que ele havia saido do nordeste e apareceu em Santa Teresa num dia muito frio... era uma pessoa pura e tinha uma certa dificuldade de entender o significado da vida. Talvez ele tenha vindo a pé... mas como pode, vir de tão longe e subir uma serra tão alta como a de nossa terra? Sem sobrenome... assim Coló passou a fazer parte de nosso mundo.
 
Vestia sempre um terno de linho branco, branco! Nunca soubemos como ele mantinha o terno tão limpo, trabalhando exaustivamente como grande executivo-vendedor de amendoins torradim! Vivia nos fundos de uma oficina de móveis, num quarto que quase podíamos chamar de quarto – era “quase” um quarto, pelo tamanho...
 
Pra torrar o amendoim, construiu um forno de carvão, desses redondos, que se usava e ainda se usa na roça para assar pão, biscoitos e outras guloseimas mais...Toda noite, no mesmo horário, ele colocava um saco de estopa nas costas, cheio até as bordas de amendoim quentinho e se postava com a máxima elegância, em frente do Cine Canaã, o velho e pulguento cinema da cidade.
 
Pulguento ou não, a pequena Soninha já era uma frequentadora de todos os finais de semana. Tudo que era ligado à Cultura fazia parte da vida daquela menina pequena, que nasceu atrás de um montinho de areia, comendo letras... mas isso é pra outro causo...
 
Colodino arrumava cuidadosamente seu saco de amendoim debaixo da varanda do Clube Canaã, que era palco de grandes bailes, animados por orquestras famosas.
 
Como sempre, fazia muito movimento, vendia seu amendoim em muitos outros saquinhos de papel que ele mesmo confeccionava, pacientemente. Coló era dono absoluto do espaço mais privilegiado da cidade : o percurso entre o cinema e o Clube! Para medir a quantidade de amendoins, usava um pequeno copo de alumínio. Era bem baratinho, uma moedinha enchia o saquinho e eu me orgulhava de poder comprar!
 
As pessoas se reuniam numa rua - a Coronel Avancini. Aliás, não era bem uma reunião, era uma verdadeira passeata, do começo ao fim da rua, moças de braços dados e casais de namorados de mãos dadas! Que coisa mais incrível!...mas só se separavam para comer o amendoim do Colodino. Iam e viam centenas de vezes, depois da sessão do cinema e à espera do baile, entre olhares furtivos trocados entre as tímida meninas e os meninos,nem tão tímidos assim, com a perna direita encostada na parede, só olhando... eita vida boa!
 
Colodino era sério, tinha sempre um jeito de quem sabia muito da vida... mas era só um jeito... Carregava consigo um canivete, que só tirava do bolso, quando alguém de espírito de porco,( o que não faltava naquela cidadezinha) passava por ele e dizia:
 
 - “COLÓCAMINHA?”
 
Ah!, nessa hora o pacato Coló virava macho e partia pra briga com o canivete em punho. Mas nunca feriu ninguém... Era amigo de todos.
Vivia só, não tinha família, mas aqui fez sua vida e aqui sua vida se foi...
 
Bons tempos aqueles, que a pureza de um Colodino fazia a vida ser diferente. Foi ele um grande Executivo-comerciante... de amendoim torradim.... Dr.Colodino! Saudades ... saudades...
 
 

Texto em parceria : Maria Cecília Sancio Lóss
(ainda vão ouvir falar dela!)


Imagem: google search


Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 14/02/2009
Alterado em 20/10/2011


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