Brasília e Eu
Com a nova ortografia, será que Brasília vai ter acento:? Sei lá!
Havia algum tempo que não visitava a cidade que conquistou meu coração há muitos anos; não somente por ser admiradora ferrenha de JK, aquele mineirinho que cantava sobre os peixes quando ia pescar nos rios das Minas Gerais, mas por ser a cidade que abriga meu filho número um e suas raizes em formação...
Garanto que se JK estivesse ainda entre nós, ia ficar meio embaralhado com tanta mudança na cidade onde fincou seus pés com a alma. Ipês amarelos enfeitam o belo lugar, milhares de buganvílias brancas, arroxeadas e cor de rosa fazem nossos olhos queimarem mais um pouco; não somente pelo clima mas também pela beleza aberta aos olhos da gente.Os flamboyants são um espetáculo à parte. Não tem como não admirar esta cidade... não tem...
Parte de minha família mora lá. A pessoa mais importante, em ordem de prioridade, está crescendo e virando uma mocinha linda naquele lugar. Ela é de uma meiguice impressionante, além da beleza, inteligência e alegria de viver, sua marca maior. As crianças são dotadas de um amor incondicional: mostram claramente que amam com a mesma facilidade que tomam um copo de água (quando se lembram disso).
Desde quinta-feira estava com o coração aos pulos, porque ia vê-la de novo. Esta garota é impressionantemente especial na minha vida. Não poderia, jamais, deixar de dar-lhe milhares de abraços no seu aniversário. Aniversário... eu, além de ser a avó desta garota especial, fui a fotógrafa oficial deste passeio... Foram tiradas exatas 308 fotos de momentos engraçados, preguiçosos, hilários, meigos, bonitos.
Logo ao chegar, a primeira coisa que ela me mostrou foi uma “flor da noite”, que exala um cheiro maravilhoso. A vontade de estarmos juntos, meu filho, a mãe dela, a família, as pessoas que eu amo tanto, não me permitiu dormir nada por quatro dias. Meu coração ficava balançando dentro do peito... Ganhei uma carta com um poeminha dela (tem a quem puxar, sim...) e muitas vezes ouvi "Eu te amo". Um fato que me fez chorar foi quando ela pegou o guardanapo no restaurante. Marcou um lado e disse : - "Vou jogar o guardanapo; se cair com a minha marquinha virada pra cima você não vai embora hoje." - A marquinha ficou do lado escondido... e meia hora depois a gente se abraçava, esperando o próximo encontro.
Compramos lápis de cor, batons de todas as cores, um peixinho em móbile ( eu adoro peixinhos), perfumes... Comemos pratos diferentes, tomamos caldo de cana... muito legal, muito legal... como eu dizia repetidamente.
Vim embora para Vitória, onde pessoas caladas brigavam ferrenhamente com seus laptops, celulares, jogos eletrônicos. Nós, humanos, somos nada dentro de um aeroporto. Não são ouvidas vozes, os abraços são os de despedida. O homem está sendo engolido pela tecnologia... pela falta do toque de amor, tão necessário hoje em dia e tão longe... cada vez mais. É proibido sorrir para as pessoas, é proibido ser educado e ajudar; o próprio homem escolheu ser assim.
Enquanto eu sonhava com as flores de Brasília e a saudade já batendo forte, meu vôo foi trocado sem aviso, de Belo Horizonte fui parar no Rio de Janeiro, onde meu assento perto da janela sumiu como que por encanto e fiquei sentadinha no meio de dois homens que não tive coragem nem de ver a cor que tinham: um deles “trabalhou” no seu laptop, com um fone de ouvido para a música que ouvia, óculos escuros (pra não enxergar mais nada), celular no bolso do lado direito, ipod no outro. O meu companheiro de viagem do lado direito soltava longos suspiros o tempo inteiro...
Cheguei em minha casa feliz. Logo fiquei triste... tinha “apenas” 2130 mensagens na minha caixa postal, esquecida por três dias e cheia de palavras lindas dos meus amigos – Amigos, sim! Virtuais são pessoas, ora bolas!
Logo uma chuva torrencial alagou a minha ilha querida. Faz mal não... amanhã tem sol.
Boa semana!
Ilustração: FBarros
