Eu posso enxergar!
Relutei muitos dias antes de ir ao cinema para assistir o “Ensaio sobre a Cegueira”, baseado na obra de José Saramago.
O que eu senti
Desconfortável. Doía-me o corpo inteiro. Não é que o filme seja excelente. Não... mas foram algumas cenas que mexeram demais comigo. Primeiro, a sensação de não enxergar. Quando um cisco cai nos nossos olhos ou temos uma conjuntivite, já sofremos demais... imagine ficar sem enxergar nada - (ou tudo branco, porque a verdadeira cegueira é negra, como me disseram um dia) – e depender de alguém para sobreviver...
Duas cenas me chamaram atenção, mais do que todas as outras.
- ... ela, que tudo enxerga, vê o marido cego fazendo amor com outra mulher. Ao invés de brigar, ela se aproxima devagar,enquanto um marido nu e atônito a ouve falar bem baixinho: - “Eu posso enxergar”.
- ... o banho de panela com água morna no velho negro, cuja água caia lentamente pelas mãos da linda mulher branca. O velho, ao dizer que a amava, não queria mais voltar a enxergar. Ao dizer-lhe que os dias mais felizes que viveu foram os que passou com ela, na escuridão... Nesta hora eu chorei.
- a fila das nove mulheres para dar seus corpos em troca de comida.
O que eu penso
A cegueira que nos envolve a vida é a falta de amor. É negar-se a mudar, a ser outra pessoa, melhor, mais plena. A vaidade mata as pessoas aos poucos, muito mais que se pensa. Ficar cegos ao que acontece à nossa volta é dar um certificado de burrice total, cujo preço é alto...
===== O que a Wikipedia diz:
“...O romance aborda a emergência de uma inédita praga de uma repentina cegueira abatendo uma cidade não identificada, inexplicável e incurável. O romance nos mostra o desmoronar completo da sociedade que, por causa da cegueira, perde tudo aquilo que considera como civilização ....e comentar as facetas básicas da natureza humana à medida que elas emergem numa crise de epidemia, Ensaio sobre a cegueira mostra a profunda humanidade dos que são obrigados a confiar uns nos outros quando os seus sentidos físicos os deixam. ....O brilho branco da cegueira ilumina as percepções das personagens principais, e a história torna-se não só um registro da sobrevivência física das multidões cegas, mas também das suas vidas espirituais e da dignidade que tentam manter. Mais do que olhar, importa reparar no outro. Só dessa forma o homem se humaniza novamente.”=====