Tempo de Canções
À medida que o tempo passa, temos a capacidade de enxergar melhor tudo à nossa volta. Quando somos jovens não nos apegamos a detalhes, pequenos pontos que hoje são observados atentamente...
Acho que já contei aqui o tanto que eu gosto de ir ao Convento, bem no meio da Mata Atlântica. Lá tem aqueles macaquinhos que eu amo... E o lugar me traz paz intensa, pela presença certa de Nossa Senhora.
Em uma quarta-feira de cada mês, o padre Bertolino celebra a missa dos doentes. Trata-se de um senhor de meia-idade, bem humorado e branquinho. Imagine levantar seus braços centenas de vezes sobre cada pessoa, na testa, na garganta e no coração, usando uma espécie de óleo nas mãos. É muito cansativo... Depois desta cerimônia de fé, que dura muito tempo, ele canta a Ladainha de Nossa Senhora. Tudo fica em silêncio e a única coisa que ouvimos é a voz dele. Bem no fundo, lá longe, os carros atravessam a ponte.
Eu nunca tinha ido lá para participar; aliás, nem sabia disso. Geralmente vou ao convento em visita pra tomar um cafezinho com Nossa Senhora, minha amiga íntima.
Nessa nova experiência, sentei-me nas pedras – é sempre bom lembrar que cada pedra do Convento foi carregada por uma pessoa, uma a uma, numa altura considerável, há muitos e muitos anos atrás... Não havia nem sinal de nasceríamos... Incrível!
Quando cheguei, havia um senhor bem idoso ao meu lado. Calça preta, camisa amarela e chinelo de dedo. Imediatamente saiu de perto de mim e voltou, alguns minutos depois, com um pedaço de papel que, cuidadosamente, colocou sobre a pedra para que eu sentasse sobre ele.
Agradeci e fiquei olhando aquele senhor de idade, tão gentil.
O que mais me impressionou foi um pequeno detalhe: ao invés de cantar, ele assovia todos os hinos da celebração.
Simplesmente lindo.
Ilha do Sol, terça-feira nublada.
