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Áudios

* Toda uma Vida *
Data: 07/12/2007
Créditos:
Texto : TODA UMA VIDA
Crônica e voz : Sunny Lóra
Software de edição : Audacity
Trilha sonora obtida em Classical Archives

Gravado em 7 de dezembro de 2007, às 22:30hs


Toda uma vida.


Enquanto me angustiava na sala de espera, morrendo de fome que já durava 13 horas, nem me mexia do lugar. Na sala, ninguém falava nada e o som que se ouvia era apenas o da apresentadora bonita mostrando-nos como se faz aquele prato novo, cheio de calorias e gordura. Enquanto minha cabeça latejava, morrendo de medo do meu exame, era impossível não ver aquelas fatias de bacon, quiabo, camarão, frango, muito verde, pimenta e as mãos que aquela mulher bonita queimou, na panela, sem querer. Estranhei a ausência da cachorrinha daquela mulher, que é uma guerreira, com certeza, como eu. Fiquei imaginando como pode experimentar tantos pratos e não engordar, enquanto eu me esforço nas saladas e grelhados e a balança, que não quer conversa comigo.

Pensei na amiga de longe, que logo vai me dizer que a vela da sua mãe adorada se apagou. Acho que neste momento todos estavam olhando para mim, de mãos postas, rezando baixinho uma Ave-Maria.

E passa-se o tempo... e o meu exame, que eu tanto quero saber o que é esta pedrinha de gelo no meu estômago?

E aí, entra ela. Na frente, o marido atrás, com uma bengala. Ele sentou-se atrás de mim, quieto e assustado. Ela, ainda muito bonita, com colares e um anel enorme no dedo, foi cuidar dos papéis do exame dele. Logo, ele entrou para o seu exame e ela ficou paradinha no meio da sala.

Não sei o que ela viu em mim, mas sentou-se do meu lado. Fiquei impressionada! Ela, com 83, ele, 86. Cuida sozinha da casa, lava, passa, dá os remédios para ele nas horas certas. A filha amada foi morar em outro país, depois de uma semana que o casalzinho mudou-se do Rio de Janeiro para cá.

- O apartamento tem uma cozinha enorme, minha filha! Mas a gente come fora, então não precisamos dela. O que eu quero mesmo é dormir e sonhar com as viagens que fiz. Era tão bom...

Eu ouvia tudo, atenta ao chamado do meu nome. E que fome... e o meu celular, que nem tocou? Por que eu tenho este tijolinho no estômago?

Finalmente, depois de conhecer a Rússia, Paris e Las Vegas, deixei a doce senhora com um abraço bem gostoso.

Fiz o exame. Caí num pranto convulso quando o médico me disse que eu sou perfeita!  Quando voltei, depois de lavar o rosto e ganhar mil carinhos do pessoal da clínica, a senhora que me ajudou a passar os intermináveis minutos antes do meu exame, não estava mais na sala de espera. A pedrinha de gelo do meu estômago não é nada, não...é só dorzinha de solidão.

Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 26/02/2007



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